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Imagem da Capa: Composição, 1957

Janeiro – Março 2008

Júlio Resende 28ª Exposição Galeria dos Paços do Concelho

A exposição de Resende em Lisboa, em 1949 (após uma bolsa pela Europa), veio atualizar, numa certa medida, a visão plástica entre nós (…)

A exposição de Resende em Lisboa, em 1949 (após uma bolsa pela Europa), veio atualizar, numa certa medida, a visão plástica entre nós (…) com um estudo demorado de outras artes, uma assimilação, uma absorção meditada, não decorativa, de coisas vistas.

(1951)

 

 

Evoluindo num curto passado de quinze anos de aprendiz-pintor e de jovem pintor, através dos encontros que teve, das influências que entendeu, das várias conclusões a que chegou, em períodos sucessivos (…), com os problemas entrecruzados e próprios, Resende foi-se preparando para uma função de “intercessor” (…) que os seus quarenta anos de hoje, colocando-o na ponta mas velha desta “terceira geração”, melhor lhe permitem exercer. Que os mais novos saibam vê-lo, queiram estudá-lo, se apoiem na segurança do terreno que a sua obra propõe (…) Que a recente entrada de Resende como Professor na Escola de Belas Artes do Porto (…) possa fazer verificar, em breve, o papel possível de “mestre” e de “treinador” que no princípio deste estudo ao pintor atribuí.

(1957 – 1960)

 

 

A exposição de Resende em Lisboa, em 1949, fazia prever o papel que ele podia vir a desempenhar na pintura portuguesa da sua geração. No mesmo ano foi-lhe justamente atribuído o prémio “Sousa Cardoso” na Exposição (anual) do SNI e, de novo, em 1952.

Em 1956 ele recebeu, por voto dos outros expositores, o prémio do Salão dos Artistas de Hoje, e um 2º prémio de pintura na Exposição Gulbenkian foi-lhe atribuído em 1957; outros prémios compensaram ainda a sua atividade durante esses anos – no coroamento dos quais esteve uma retrospetiva realizada no SNI em 1961, facto sem precedente para um artista de quarenta e quatro anos.

 (1974)

 

 

Em 1962, de assistente, Resende passou a professor da sua Escola de Belas Artes do Porto, sucedendo a Dórdio Gomes - e isso já em 1957 lhe fora vaticinado pela crítica responsável… Q. e. d. se diria desta carreira que se prosseguiu sem falta ou faltas, com normais atrações expressionistas, confessadas numa via que assimilou as melhores lições profissionais do seu tempo de aprendizagem, em anos 40-50. A capacidade plástica de Resende manteve-o arredado de pendores temáticos, ainda que com algum populismo social no início, ou mesmo mais tarde, como em 1984 pintando a “Ribeira Negra” portuense com colorido dramático – no que é provavelmente o seu melhor conjunto pictural, como tal premiado pela AICA nesse ano. E também com um ou outro movimento de abstração, mas por lógica interna do seu discurso formal – e sem jamais decidir o que o pintor não podia, na verdade decidir, sequer por transição de situações estéticas, numa pintura mais propriamente em charneira de tempos.

José-Augusto França, História da Arte em Portugal – o Modernismo, vol. VI (2004)

 

 

 Júlio Resende vai colher novos ensinamentos, ouvir novas doutrinas, assistir in loco à discussão dos grandes problemas da arte atual (…) Deixando a acanhado meio da sua pátria, vai envolver-se na luta que lá fora se trava por melhor e mais novo. Prestará, com os largos conhecimentos que de lá há-de trazer, um importante serviço à Arte e ao País.

Fernando Lanhas, 1947

 

 

A obra de Júlio Resende define todo um importante capítulo de uma modernidade conquistada entre dúvidas e equívocos.

Fernando Pernes, 1963

 

 

Em resposta a um convite meu para participar na “I Retrospetiva da Pintura Não-Figurativa Portuguesa”, em 1958, na Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa, Resende, aceitando, escreve-me: ” Pertenço a uma geração que vive uma época de inquietude e se encaminha em avalanche para o imprevisível. É este o estado de espírito que me domina a todo o instante e, naturalmente, se exacerba quando pego nos pincéis. Daí o Homem estar sempre presente nas minhas telas, embora esta presença seja mais espiritual que física”.

Do geometrismo ao não-figurativo, do gestualismo ao neo-figurativo, o expressionismo de Resende domina as novas linguagens. O seu portuguesismo foi facilmente reconhecido pelos estrangeiros, devido à sua comparticipação na construção de uma linguagem universal.

Mas, neste aspeto, convém lembrar que há em Resende uma recusa de virtuosismo. A sua arte ressalta sempre de uma encruzilhada de pesquisas, em busca do absoluto, exigindo o risco poético. Em cada obra, a aventura total (…). A sua autenticidade fá-lo voltar a modos muito seus, aparentemente abandonados durante anos, e fá-lo refletir os ambientes em que vive. Não é verdade que “Estender Roupa”, de 1974, retoma alguma coisa desse humaníssimo e isolado quadro de 1948 “A Velha”? Não é verdade que “Homem e Pássaro”, de 1978, com as suas cores alegres e estridentes do pássaro em contraste com a carranca sombria do homem, só seria possível depois de Resende conhecer o Brasil? Não se retomam as luminosidades, a superfície translúcida de “Mulheres da Beira-Mar” (1956) e de “Alentejanos” (1951), nos mais recentes “Mulheres” e “Uma Criança e Mulher”, ambos de 1979, onde o gestualismo esfarrapa as figuras para melhor as transmutar em luz?

Nas gerações anteriores, o expressionismo e o lirismo andaram de mãos dadas: Eloy, Júlio, Sarah, Alvarez. Em Júlio Resende também. Coube ao expressionismo lírico de Resende falar em português as novas linguagens pictóricas. A sua obra é um oscilógrafo das inquietações e dos sonhos da sua geração.

Rui-Mário Gonçalves, 1980

 

 

CATÁLOGO

 

1. Praça da Batalha (Porto),1946

Aguarela s/papel

22,5x28,5 cm

 

2. Londres, 1948

Desenho aguarela s/ papel

32x36,5 cm

 

3. Sem título, 1959

Tinta-da-china

65x51 cm

 

4. Pintura, 1961

Óleo s/ tela

131x98 cm

 

5. Sargaceiro, 1971

Óleo s/ tela

146,5x97 cm

 

6. O Papagaio, 1971

Óleo s/ tela colada s/platex

119,8x94,5 cm

 

7. A noite, 1973

Óleo s/ tela

90x121,5 cm

 

8. O dia, 1973

Óleo s/ tela

90x121,5 cm

 

9. Sem título, 1973

Óleo s/ tela

160x205 cm

 

10. Sem título, 1978

Óleo s/ tela colocada s/platex

95x120 cm

 

11. Figuras brasileiras, 1981

Óleo s/madeira

75x63,5 cm

 

12. Natureza de forma oval, 1986

Óleo s/tela

60x73 cm

 

13. Figura, 1987

Tapeçaria, manufatura de Portalegre

Exemplar 3/6

198x138 cm

 

14. Mulher com espelho, 1988

Óleo s/tela

61x74 cm

 

15. Adeus tristeza, 1991

Óleo s/tela

100x100 cm

 

16. Luz de atelier, 1997-2000

Óleo s/tela

134,5x149,5 cm

 

 

 

O ARTISTA E A OBRA

Júlio Resende nasceu no Porto a 23 de Outubro de 1917. Aprendeu desenho e pintura na Academia Silva Porto e colaborou desde muito cedo em jornais e publicações infantis com ilustrações e banda desenhada. Em 1937, ingressou na ESBAP – Escola de Belas-Artes do Porto, onde foi aluno de Dórdio Gomes, mestre que lhe transmitiu a esquematização da paisagem herdada de Cézanne.

Em 1943 participou com Fernando Lanhas e Júlio Pomar na formação do Grupo dos Independentes. Constituído por alunos e professores da ESBAP, o Grupo dinamizou o tecido cultural português através de exposições em diversas cidades. Bolseiro do Instituto de Alta Cultura, parte para Paris em 1947, a partir de onde iniciou um conjunto de viagens por Itália, Inglaterra, Bélgica e Holanda. Em 1958 assumiu funções docentes da Escola de Belas-Artes do Porto. Dirigiu-a entre 1974 e 1976. O largo tempo que esteve ligado à ESBAP conferiu-lhe o estatuto de “Mestre” na verdadeira acepção da palavra, influenciando as gerações dos artistas mais novos.

Figura de reverência da terceira geração do modernismo português, Júlio Resende desenvolveu um percurso marcado por uma consciência de unidade que soube ir atualizando sem se deixar limitar por compromissos estéticos. Numa dialética entre construção e expressão, toda a sua obra é atravessada por um profundo sentido antropomórfico, que nem um contacto mais próximo com o informalismo conseguiu abolir. Outras latitudes geográficas – Brasil, Cabo-Verde, Goa e Moçambique – permitiram-lhe descobrir uma nova dimensão da natureza humana.

Dando sentido à sua ideia de que a pintura é sempre uma arte mural, Júlio Resende desenvolveu um número considerável de intervenções em arte pública no domínio do vitral, do fresco, da tapeçaria e da cerâmica, de que o monumental painel Ribeira Negra é o trabalho mais emblemático. Na sua vasta atividade incluem-se cenografias para teatro, bailado e cinema, bem como ilustrações de obras de Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen e Mário Cláudio, entre outros.

Desde a sua primeira exposição em 1943, Júlio Resende expôs individualmente por mais de setenta vezes em Portugal e no estrangeiro, e participou em mais de cem exposições coletivas. Em Outubro último, a propósito do seu 90.º Aniversário, foi homenageado numa grande exposição retrospetiva na Alfândega do Porto.

Representado em inúmeras coleções públicas e privadas, a qualidade da sua obra valeu-lhe a atribuição de inúmeros prémios, de que se destacam: o Especial de Pintura, na I Bienal de S. Paulo (1951); o do Salão dos Artistas de Hoje, SNBA, Lisboa (1956); de Pintura da I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian (1957); e o da Associação Internacional de Críticos de Arte (1984). Em 1982 foi agraciado com a Comenda de Mérito Civil de Espanha e em 1997 o Presidente da República condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

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