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Imagem da Capa: Aluenda-Tordesillas, 1976
A pintura de Joaquim Rodrigo exige dos módulos puramente matemáticos uma solução ideal para a superfície tomada. Ele é um dos mais conscientes pintores portugueses, e, no caminho da sua criação, abandonou certas facilidades do abstracionismo francês para, num movimento dialético, reencontrar os limites mondrianescos, rompendo-os por dentro.
(1960)
Vindo de um abstracionismo geométrico de grande exigência, foi já perto dos cinquenta anos que ele abordou uma narração de fait-divers do seu país e do mundo inteiro, descobrindo uma veia feliz de narrador popular. (...) Elementos ideográficos tomados em povos pré-hispânicos da América Central, ou em tribos da Oceania, ou nos Lundas de Angola, intervêm nos seus quadros (...) A sua démarche faz-se do concreto para o concreto e, tomando o mesmo partido que as imagens de Epinal, ela pode ser definida em relação com as intenções épicas destas.
In Les Temps Modernes, Paris, 1964
Cada geração tem as suas guerras – e tantas temos perdido em Portugal, guerras e gerações! A perda pode ser, porém, e significativamente um ganho – e é aquilo que com Joaquim Rodrigo aconteceu, dentro e, ao mesmo tempo, contra a sociedade em que foi produzido.
(1972)
Joaquim Rodrigo vem dirigindo, na S.N.B.A., um curso de pintura (que em exposição) representa o resultado do trabalho dessa oficina. E desde já digo que Joaquim Rodrigo tem razão (...) Em última frase, sublinho que, felizmente, ele não tem discípulos, tem alunos (...) Admitindo polemicamente esta situação, a liberdade de criação dos alunos de Joaquim Rodrigo fica garantida perante eles próprios – com a inocência «primitiva» que toda a criação pressupõe.
(1979)
O livro teórico de Joaquim Rodrigo («O Complementarismo em Pintura») é uma «poética» e, como todas as verdadeiras poéticas, heterodoxa, por original.
(1988)
A representatividade da pintura de Joaquim Rodrigo ultrapassa, sem dúvida, o quadro estrito da produção portuguesa, cabendolhe, entre muitos outros artistas que circulam pela área euro-americana, e como tem sido muito raro, um direito natural que vem de uma poética pessoal e inédita.
JOSÉ-AGUSTO FRANÇA (História da Arte em Portugal – O Modernismo, 2004)
Só agora (...) aprendi como telemetricamente é feito o quadro, o único “quadro-tipo possível”, aquele que exprime “a relação entre o homem e a natureza”, aquele que Kandinsky previu, aquele que Picasso, nos últimos tempos da sua vida, considerou “a resposta que a pintura aguardava” e que “os gregos conheciam”.
(1984)
...o resultado final, considero-o insuperável de economia, equilíbrio formal e cromático, contraste, claro-escuro ou legibilidade e harmonia, que é tudo aquilo que o observador deseja, por assim (inconscientemente quase sempre) lhe ser exigido um menor esforço.
JOAQUIM RODRIGO, Pintar Certo, 1995
...pintura onde o elementar foi amadurecida conquista para a plenitude dos meios expressivos, onde as formas se recortam, libertas de qualquer contaminação naturalista numa livre graduação espacial entre o dia e a memória, o acontecimento concreto e a montagem de sincopadas relações do imaginário.
FERNANDO PERNES, 1972
Logo se vê que o neofigurativismo de Joaquim Rodrigo tem de ter fundamentos que não se enraízam no cosmopolitismo urbano.
FERNANDO DE AZEVEDO, 1983
Joaquim Rodrigo escolhe assuntos da sua vida pessoal (...) mas também acontecimentos políticos de que toda a gente fala em voz baixa e de que os órgãos da comunicação de massas não podem corretamente falar: a morte de Lumumba, o assalto do paquete Santa-Maria, as concentrações subversivas do 1º de Maio, etc..
RUI MÁRIO GONÇALVES, 1983
O «primitivismo» a que se referem os quadros de Joaquim Rodrigo evolui numa contradição criativa, o valor subjetivo, fragmentário e aparentemente longe da sua visão ótica.
JOÃO PINHARANDA, 1991
O trabalho de Joaquim Rodrigo desenvolveu-se ao longo da segunda metade do Século XX em Portugal, tendo sido pioneiro de alguns dos seus movimentos artísticos mais significativos. Do Abstracionismo Geométrico à Nova Figuração, do encaminhamento de um entendimento modernista, sintonizado com o seu universalismo, por um aprofundamento crítico de tais pressupostos, abrindo assim caminho a uma conceção pós-moderna, todos estes aspetos o itinerário de Joaquim Rodrigo abrandou, como nenhum outro artista durante o século XX. Percurso absolutamente singular e solitário da arte portuguesa, soube levar as questões das vanguardas aos seus limites.
PEDRO LAPA, 1999
CATÁLOGO
Pinturas Abstratas
1. Composição, 1952
Óleo sobre tela colada em madeira
46,5 x 38,5 cm
Col. Museu do Chiado
2. C 4, 1952
Óleo sobre tela
46 x 55 cm
Col. Particular
3. C 7, 1953
Óleo sobre tela
73 × 92 cm
Col. Museu do Chiado
4. Directrizes, 1958
Têmpera sobre tela
127 × 88 cm
Col. Museu do Chiado
5. Directrizes, c. 1959
Têmpera sobre tela
92 x 73 cm
Col. Museu do Chiado
6. Vermelho x Azul n.o 1, 1958
Têmpera sobre tela
65 × 91,9 cm
Col. Museu do Chiado
7. Vermelho x azul n.º 6, 1958
Têmpera sobre tela
64,5 x 92,5 cm
Col. MMJC – NAC
8. Sem título, c. 1959
Têmpera sobre tela
72,5 x 91 cm
Col. Museu do Chiado
Pinturas Figurativas
9. Vau 2, 1960 col. Maria Eugénia Garcia
óleo sobre platex
85 x 121 cm
col. Maria Eugénia Garcia
10. S. M., 1961 col. Museu do Chiado
Têmpera sobre platex
97,3 × 146 cm
Col. Museu do Chiado
11. Kultur - 1962, 1962
têmpera sobre platex
73 x 92 cm
Col. Museu do Chiado
12. Mondo Cane I, 1963
Têmpera sobre tela colada sobre platex
81 x 116 cm
Col. Museu do Chiado
13. 6 H, 1963
Têmpera sobre platex
89 x 130 cm
Col. Maria Eugénia Garcia
14. Liberté, 1963
Têmpera sobre platex
123 x 185 cm
Col. Museu do Chiado
15. Quintais, 1964
Vinílico sobre tela
73,5 x 93 cm
16. Lisboa – Oropeza, 1969
Vinílico sobre platex
97 x 146 cm
17. Alassion – Nice, 1971
Vinílico sobre platex
128 x 180 cm
col. Museu do Chiado
18. Manuela Cantinho, 1978
Sem Título
Trabalho de curso ministrado por Joaquim Rodrigo
Guache sobre platex
51,9 x 69,4 cm
Col. MMJC – NAC
O artista e a obra
Joaquim Rodrigo nasceu em Lisboa em 1912 e ali faleceu em 1997. Engenheiro agrónomo de formação e profissão (dirigiu a plantação da Serra de Monsanto durante trinta anos) dedicou-se à pintura, vindo a expor pela primeira vez no Salão da Primavera da S.N.B.A. em 1951 e então também na 6ª Exposição Geral de Artes Plásticas. Daí em diante esteve presente em mais de setenta exposições coletivas em Portugal – entre elas no I Salão de Arte Abstrata (1954, Galeria de Março, org. J.-A. França), I Retrospetiva de pintura não-figurativa portuguesa (1958, Fac. Ciências, org. R. M. Gonçalves), I Salão dos Artistas de Hoje (1956), 50 Artistas Independentes (1959), 2ª Exp. Fund. Gulbenkian (1961), Exp. A.I.C.A. (1974 e 1985), e em mais de vinte exposições no estrangeiro, desde 1952 (Sevilha) entre as quais nas IV e XX Bienal de São Paulo (1957 e 1989), e em Paris, Madrid, Barcelona, Bruxelas, Atenas, Tóquio, Dublin, Rio de Janeiro, Caracas, Estrasburgo, Bordéus, Funchal, Macau, etc.. As suas obras integraram as exposições das coleções de Manuel de Brito (1995) e José-Augusto França (1997) no Museu do Chiado. Realizou somente quatro exposições individuais (1972, S.N.B.A.; 1980, Centro Nacional de Cultura, com Noronha da Costa; 1982, Galeria Quadrum; 1994, Gal. Valentim de Carvalho) e uma grande exposição retrospectiva da sua obra foi organizada no Museu do Chiado, por Pedro Lapa, em 1999.
Foram-lhe atribuídos os seguintes prémios: 1959 – Prémio Diogo de Macedo, 1966 – Grande Prémio da Cidade do Funchal, 1969 – Exp. Do Banco Português do Atlântico (ex-aequo), 1972 – Prémio Soquil; 1982 – Prémio Nacional da Crítica de Arte. Está representado com um quadro na decoração do café “A Brasileira do Chiado” (1971) e no Museu do Chiado (17 obras), no C.A.M.J.A.P. da Fundação Gulbenkian, na Fundação Serralves, no Museu do Funchal, no Museu Municipal de Tomar, etc., e em numerosas coleções particulares.
Entre 1977 e 1979 dirigiu um Curso de Pintura na S.N.B.A.. Publicou O Complementarismo em Pintura – Contribuição para a Ciência da Arte (Livros Horizonte, Lisboa, 1982) com Aditamentos em 1982, 1984 e 1988. José-Augusto França publicou Joaquim Rodrigo ou o «Pintar Certo» (1988), Pedro Lapa em 2011 prepara um doutoramento em História de Arte sobre a obra de J.R. e em 2000 a pintora Maria Filomena Liliana aluna do seu curso na S.N.B.A., promoveu-lhe uma homenagem, publicando então um significativo panfleto, «Devoções».
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