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Imagem da Capa: Diagonal, a.d. 1948

Maio – Agosto 2014

Fernando Azevedo 46ª Exposição Galeria dos Paços do Concelho

Há sessenta e dois anos, em 1952, numa exposição que reuniu Fernando de Azevedo, Fernando Lemos e Vespeira, e foi fundamental na história de arte portuguesa da segunda metade do século XX, Fernando de Azevedo apresentou-se com estas palavras ...

Há sessenta e dois anos, em 1952, numa exposição que reuniu Fernando de Azevedo, Fernando Lemos e Vespeira, e foi fundamental na história de arte portuguesa da segunda metade do século XX, Fernando de Azevedo apresentou-se com estas palavras que haviam de definir para sempre a sua condição de artista criador e de crítico de arte que também foi.

  

TEXTO DO CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO DE 1952

Creio só ser possível apreender o sentido concreto do objeto-pintura, a que uma perseguição constante, exaustiva mesmo, e sempre apaixonada das imagens substituindo-se por choque ou acrescentando-se por excitação dá existência e através da qual um tipo de autenticidade expressional se comunica e descobre, aceitando-se:

 

A realidade sensível e a realidade imaginada como dois aspetos componentes e contraditórios

duma única realidade a realidade viva e expressional.

Que a obra de arte pode e deve ser uma das mais positivas dentre as resoluções em síntese dialética destes dois aspetos contraditórios.

Que essa síntese só é possível, desde que a pesquisa expressional e a sua resolução sintética se

façam com a mesma liberdade de procura que é óbvia a todo o processo de conhecimento.

 

A decifração de um quadro tem tanto de cómodo como de negativo. Feitos os cálculos, feito o seu enumerado aritmético pelos olhos isto quer dizer aquilo, portanto, com mais isto quer dizer aqueloutro pode acontecer que o resultado não coincida com aquele que a decifração habitualmente propõe para o sossego das pessoas e imunidade dos sistemas. Emocionalmente, de resto, o decifrador nunca se compromete; exige apenas saber de que se trata, contando ganhar assim largueza bastante para se afastar do que não quer ou não pode entender com esforço, do que pode obrigá-lo a despender do seu sensível, antes mesmo de saber pela autoridade do hábito, se deve consentir ou não em tais gastos, se a articulação do seu sistema quotidiano lho permite ou não.

E, sendo este processo precisamente o avesso da compreensão, por aqui habitualmente se insiste para compreender o que não é habitual.

 

  

 

O entendimento é da ordem do sensível, e ninguém entende sem comover-se primeiro. É uma comoção que exige só o esforço de ser suficiente generoso para a te e por aqui se percebe também o que o amor tem que ver com este modo de nos encontrarmos francamente com as coisas. Entre entendedor e entendido, tece-se então a admirável rede das relações recíprocas, multiformes, interessadas, e intraduzíveis para além daquela linguagem calorosa que a riqueza interior de cada um põe a circular para fora de si quando cresce e deixa de conter-se a si mesma. Relações de tal modo recíprocas e envolventes, que não consentem o ficar de fora quanto for jogado nelas. Se é precisa a coragem dum compromisso, é para o ato de entender que vale a pena tê-la. 

Tal como as pessoas, é de entender um quadro que se trata e não de decifrá-lo.

Valerá a pena assinalar ainda, a que triste e pobre papel se reservaria o pintor dentro da sociedade, se, de si próprio, da sua experiência viva, só desse conta na pintura que faz do que nela possa servir para exemplo e justificação dos raciocínios alheios e sempre os mesmos; ou que do que é movente, ilimitado e contraditório, sensível e intelectualmente apreensível na realidade, disso só desse conta através duma representação estática, determinada, idealmente una e dentro duma imagística de obtenção só racionalmente consentida.

Contrariando, pelo ato da provocação da imagem semi-automática, a representação exclusiva dum conteúdo manifesto, julgo que pela surpresa acontecida e imediata dificuldade da articulação lógica das imagens clima poético propiciar assim a subida ao nível de expressão, dum conteúdo latente, mais profundo e doutro modo inacessível. Nisto não vejo em que se negue a tradição histórica. Uma época nunca está próxima da compreensão do culto conteúdo latente que exprime as suas tendências ou características, mas sim do conteúdo manifesto que ilude, e só parece mais aparentemente definidor por habitual, e por semelhança com o mecanismo onírico individual.

 

Não ajudará isto a explicar a indiferença, o alheamento, a incompreensão em suma, que na altura própria as épocas têm por aqueles que mais autenticamente as exprimem? Não explicará isto também, que certas obras de arte sendo recusadas pela sua época, venham posteriormente a ser compreendidas e, o que é mais, que por elas posteriormente se encaminhe e compreensão do tempo em que foram feitas?

Fernando Azevedo, 1952

 

 

CATÀLOGO

 

1. «Entrevelas», 1953, Óleo sobre Platex,

34 x 27 cm

2. Cadavre-exquis (Marcelino Vespeira e

Fernando de Azevedo), 1949, Óleo sobre Cartão,

52 x 44 cm

3. Sem-Título, 1961, Óleo sobre Tela,

65,5 x 53,8 cm

4. Sem-Título, 1961, Óleo sobre Tela, 61 x 81cm

5. «Homenagem ao poeta António Maria

Lisboa», 1978, Desenho, Colagem sobre Colagem,

30 x 22,8 cm

6. «Homenagem a Picasso», 1981, Desenho,

Colagem sobre Colagem, 24 x 31,5 cm

7. «Homenagem a Luis Buñuel», 1983, Desenho,

Colagem sobre Colagem, 28,8 x 25,7 cm

8. Ocultação, 1949, Desenho, Tinta-da-china sobre

Papel, 17 x 25 cm

9. Ocultação, 1951, Desenho, Tinta-da-china sobre

Papel, 21,5 x 32,2 cm

10. «Cidade», 1955-56, Têmpera e óleo s/

cartão, 46 x 54,5 cm

11. Sem Título, 1959, Oleo sobre tela, 49 x 72 cm

12. Cadavre-exquis com Vespeira, 1948,

Carvão sobre papel, 33,5 x 22,5 cm

13. Os grandes transparentes, 1979, Colagem

sobre papel, 30 x 42 cm

14. Guerreiro e paisagem com espelho, 1982,

Colagem sobre papel, 31 x 44 cm

15. Primeira Viagem de Chirico, 1986,

Colagem sobre papel, 26 x 19,5cm

16. A Cigarreira Breve, 1986, Colagem sobre

papel, 35 x 41,Scm

17 2 Ocultações: S/ título, 1950/51, Tinta-da-

-china sobre imagem impressa, 21,5 x 13,5 cm e

10 x 75 cm

18. Ocultação, s/ título, 1950/51, Tinta-da-china

sobre imagem impressa, 13,5 x 12 cm

19. S/título Retrato do filha Cristina, n.d.,

Carvão sobre papel, 28 x 20 cm

20. S/ título, 1940/45, Carvão sobre papel, 28

x 11 cm

21. S/ título - Ilustração paro o livro Mil e uma

noites, n.d, 1° edição, 1958/62, Ecoline e tinta da

china s/ papel, 25x18,5 cm

22. S/ título - Ilustração paro o livro Mil e uma

noites, md. 1 edição, 1958/62, Ecoline e tinta da

china s/ papel, 23,5 X 18,5 cm

 

A Câmara Municipal de Tomar agradece a colaboração do Museu Nacional de Arte Contemporâneo do Chiado,

Centro de Arte Moderno do Fundação Calouste Gulbenkian e Dr.ª. Cristina Azevedo Tavares e filhos.

 

 

 

O ARTISTA E A OBRA

 

Fernando de Azevedo nasceu em 1923 em Vila Nova de Gaia. Fez o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudou pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Pintor e Artista. Gráfico. Tem exercido ação no campo da Crítica de Arte, na organização e direção de montagem de exposições em Portugal e no estrangeiro e realizado trabalhos de Museografia. Foi um dos criadores do Grupo Surrealista de Lisboa, em 1947 tendo participado na primeira Exposiçõo do Grupo em 1949 e na Exposição Surrealista na Casa Jalco, em Lisboa, com Fernando Lemos e Vespeira, em 1952. Integrou as Comissões Diretiva e Executiva do Movimento Democrático dos Artistas Plásticos em 1974, tendo sido um dos 48 artistas que, no mesmo ano, executaram o Painel do 10 de junho dedicado à Revolução de Abril. Foi membro designado para o primeiro Conselho Nacional da Cultura criado pelo Secretário de Estado da Cultura, Dr. David Mourão-Ferreira, em 1976, fez parte da Comissão Organizadora do Instituto Português do Património Cultural (I.P.P.C.) e da Comissão Organizadora do Museu Nacional de Arte Moderna do Porto, hoje Museu de Serralves. Tem ilustrado e dirigido graficamente numerosas publicações. Na área do Teatro realizou cenários para a peça Volpone encenada por António Pedro no Teatro Experimental do Porto, e para a Opera Livietta e Trocollo de Pergolesi produzida pelo Grupo Experimental da Opera de Câmara. Colaborou com o Grupo Gulbenkian de Bailado, designadamente como consultor artístico, sendo também autor dos cenários dos bailados Mosaico, Sílfides Cinco Poemas de Amor e A Voz de Deus na Solidão os dois últimos com cenografias de Vasco Wallencamp. E presidente da Direção da Sociedade Nacional de Belas-Artes (S. N. B. A.) desde 1979 e Sócio Correspondente da Academia de Belas Artes. Foi Presidente da Direção da Cooperativa de Gravadores Portugueses Gravura entre 1962 e 1974 e Vice-presidente da Association Internationale des Critiques d’Art (A. I. C. A.) e também Presidente da Secção Portuguesa, membro do Concelho Geral da Comissão Nacional da UNESCO e do Concelho Consultivo do I. P.P. C.. Exerceu as funções de Diretor do Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, e de Diretor Artístico da Revista Colóquio Artes onde também fez regularmente crítica de arte atividade que começou em 1947 São inúmeras as suas participações em exposições, em Portugal e também no estrangeiro. Obteve, entre outros, os seguintes prémios: Menção Honrosa na IV Bienal de 5. Paulo (1953); Medalha de prata, como decorador, na Expo’58 de Bruxelas; 1° prémio de Pintura na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Gulbenkian (1962); e Grande Prémio de Amadeo Sousa Cardoso (1999), Museu A. S. C. Amarante. Representado no Museu Nacional da arte Contemporânea (MNAC), hoje Museu do Chiado, Museu Nacional de Arte Moderna Casa de Serralves Porto, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (CAM), e várias coleções em Portugal e no estrangeiro.

Condecorado pelo Presidente da República, Doutor Mário Soares, com o Grau de Grande Oficial do Ordem do Infante D. Henrique.

Fernando de Azevedo faleceu em Lisboa, em 2002.

 

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