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Imagem da Capa: “Desenho, Ocultações, Colagem e Pintura” 1949-2000

Setembro – Outubro 2000

Fernando Azevedo 3ª Exposição Galeria dos Paços do Concelho

Homenagem a Fernando de Azevedo

Homenagem a Fernando de Azevedo

Mais de cinquenta anos de ofício, desde a António Arroio e primeiros empregos de publicidade (e nos melhores ateliers) e de crítica (e nos melhores sítios que eram o “Mundo Literário” e o “Horizonte”), e foi a exposição do Grupo Surrealista de Lisboa, em Janeiro de 49. Antes de ser, com o Vespeira e o Lemos, a que, a seis mãos fizeram na Jalco, três anos mais tarde – aí se decidindo o destino histórico, próximo e distante, da arte portuguesa do tempo que passou a ser nosso. E dele… Individuais nenhum, então, mas uma parede na dos “Anos 40”, primeira retrospetiva que lhe foi, numa exposição histórica que me ajudou a realizar, em 1982. Mas sim, de colagens, nas agitações de Abril de 74, anti-salazaristas e no átrio da Fundação Gulbenkian, que em pastas estavam. E outra, na Galeria Valentim de Carvalho, já em 1985. Eu nunca o apresentei, como fiz a Vespeira e Lemos, por não haver ensejo, na preguiça discreta do artista que tantas coisas fazia e faz. Agora, sim – em homenagem que a idade presta à idade, em continuidade de ambas, por teima sem descanso…

Mas muitas vezes escrevi sobre ele, em História e artigos e catálogos. E agora mesmo, para breve edição, metendo-lhe três quadros entre os cem que me encomendaram, para leitura do século. São as “Personagens Preciosas” de 1950-51 que nesta exposição estão, vindas do Museu do Chiado, e um desenho de então, que tenho em França, e a pintura que em 1970 fez, em homenagem ao Viana, no próprio sítio que fora dele, na “Brasileira” ainda de todos nós. Lição de pintura, raríssima em sua recriação e sua economia, vinda da “Sintra” do Viana, meio século e duas gerações depois, em que cabe tudo quanto a pintura portuguesa foi gerando e entendendo.

Três obras de um artista de pouca obra, é paradoxo que a História assume, feita deles como tem que ser, no longo correr do seu sentido maior e misterioso… Desenho mais desenho do que aquele não há, nem pintura mais preciosa, de profundezas de mar e cristais, e, paisagens por paisagem, desde então outras não puderam ser pintadas. Por falta de espaço, não se fala aqui de “ocultações” que aí se vêm, por invenção que lhe passará a pintura.

Com isso, cem artigos que escreveu e entrevistas que deu, a secção portuguesa de A.I.C.A. a que longamente presidiu, mil exposições de outros que apresentou e realizou, na Gulbenkian cujas Belas-Artes dirigiu, pelo País fora e fora dele, em Paris onde lhe pedi ajuda, e, em breve, num museu em Tomar. E também a S.N.B.A. a que ele perpetuamente (ou quase) preside – imortalidade já tendo na Academia onde o fiz entrar com gente (então) jovem. E Ordem do Infante ao pescoço, ao mesmo tempo que eu. E homenagem agora sim – a seguir ao prémio “Amadeo de Sousa Cardoso” que enfim pode ser seu, por consagração da carreira…

José-Augusto França (1999)

 

 

Creio só ser possível apreender o sentido concreto do objeto/pintura, a que uma perseguição constante, exaustiva mesmo, e sempre apaixonada das imagens, substituindo-se por choque ou acrescentando-se por excitação, dá existência e através da qual um tipo de autenticidade expressional se comunica e descobre, aceitando-se:

A realidade sensível e a realidade imaginada como dois aspetos componentes e contraditórios duma única realidade – a realidade viva e expressional.

Que a obra de arte pode e deve ser uma das mais positivas de entre as resoluções em síntese dialética destes dois aspetos contraditórios.

Que essa síntese só é possível, desde que a pesquisa expressional e a sua resolução sintética se façam com a mesma liberdade de procura que é óbvia a todo o processo de conhecimento. A decifração dum quadro tem tanto de cómodo como de negativo. Feitos os cálculos, feito o seu enumerado aritmético pelos olhos – isto quer dizer aquilo, portando, com mais isto quer dizer aqueloutro – pode acontecer que o resultado não coincida com aquele que a decifração habitualmente propõe para sossego das pessoas e imunidade dos sistemas. Emocionalmente, de resto, o decifrador nunca se compromete; exige apenas saber do que se trata, contando ganhar assim a largueza bastante para se afastar do que não quer ou não pode entender com esforço, do que pode obrigá-lo a despender do seu sensível, antes mesmo de saber, pela autoridade do hábito, se deve consentir ou não em tais gastos, se a articulação do seu sistema quotidiano lho permite ou não.

E, sendo este processo, precisamente o avesso da compreensão, por aqui habitualmente se insiste para compreender o que não é habitual.

O entendimento é da ordem do sensível, e ninguém entende sem comover-se primeiro. É uma comoção que exige só o esforço de se ser suficientemente generoso para a ter, e por aqui se percebe também o que o amor tem que ver com este modo de nos encontrarmos francamente com as coisas. Entre entendedor e entendido, tece-se então a admirável rede das relações recíprocas, multiformes, interessadas, e intraduzíveis para além daquela linguagem caloroso que a riqueza interior de cada um põe a circular para fora de si quando cresce e deixa de conter-se a si mesma. Relações de tal modo recíprocas e envolventes que não consentem ficar de fora de quanto for jogado nelas. Se é precisa a coragem dum compromisso, é para o ato de entender que vale a pena tê-la.

Tal como as pessoas, é de entender um quadro que se trata e não de decifrá-lo.

Fernando de Azevedo (1952)

 

 

CATÁLOGO

 1 – “Diagonal” a.d., (1948) 33x41, Coleção Doutor José-Augusto França, Óleo sobre cartão entelado.

2 – “Monumento” a.d., (1949) 33x41, Coleção Jaime Azevedo, Óleo sobre platex.

3 – “Ocultação” n.a., n.d., (1950/51) 20x14, Coleção do autor, Guache e tinta da China sobre fotografia.

4 – “Ocultação” a.d., (1950) 26x22, Coleção Jaime Azevedo, Guache e tinta-da-china sobre fotografia.

5 – “Desenho” n.a., n.d., (1950) 20x15, Coleção do autor, Lápis de carvão.

6 – “Desenho” n.a., n.d., (1950) 32x24, Coleção do autor, Lápis de carvão.

7 – “Desenho” a.d., (1955) 30x21, Coleção do autor, Lápis de carvão.

8 – “Desenho” a.d., (1956) 21x30, Coleção do autor, Lápis de carvão.

9 – “Almoçageme” a.d., (1960) 30x40, Coleção do autor, Têmpera sobre papel.

10 – “Sintra” a.d., (1960) 30x40, Coleção Dr.ª Cristina A. Tavares, Têmpera sobre papel.

11 – “A Primeira viagem de Chirico a Veneza” a.d., (1983) 26x20, Coleção Dr.ª Cristina A. Tavares, Colagem.

12 – Colagem para “Dentro de momentos” Poema de Pedro Tamen n.a., n.d., (1984) 30x22, Coleção do autor, Colagem.

13 – Colagem para “Dentro de momentos” Poema de Pedro Tamen n.a., n.d., (1984) 28x19, Coleção do autor, Colagem.

14 – “Rua do Alecrim” a.d., (1987) 35x26, Coleção do autor, Serigrafia.

15 – “Sem título” a.d., (1987) 40x30, Coleção do autor, Serigrafia.

16 – “Os Grandes Transparentes” a.d., (1986) 29x42, Coleção do autor, Colagem.

17 – “A Cigarreira Breve” n.a., n.d., (1986) 35x42, Coleção do autor, Colagem.

18 – “O Amor Feliz” a.d., (1988) 28x21, Coleção do autor, Colagem.

19 – “Balthus ou Les Jux Innocents I” a.d., (1996) 10x12, Coleção José António Flores, Colagem.

20 – “Balthus ou Les Jux Innocents II” a.d., (1996) 12x10, Coleção Dr.ª Ana Galvão, Colagem.

21 – Sem Título a.d., (1996) 27x20, Coleção Dr. António Pereira, Colagem.

22 – Pintura a.d., (2000) 81x100, Coleção do autor, Óleo sobre tela.

23 – Pintura a.d., (2000) 81x100, Coleção do autor, Óleo sobre.

 

O artista e a obra

Fernando de Azevedo

Nasceu em 1923 em Vila Nova de Gaia. Fez o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudou pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Pintor e Artista Gráfico. Tem exercido acção no campo da Crítica de Arte, na organização e direcção de montagem de exposições em Portugal e no estrangeiro e realizado trabalhos de Museografia. Foi um dos criadores do Grupo Surrealista de Lisboa, em 1947, tendo participado na primeira Exposição do Grupo em 1949 e na Exposição Surrealista na “Casa Jalco”, em Lisboa, com Fernando Lemos e Vespeira, em 1952. Integrou as Comissões Directiva e Executiva do Movimento Democrático dos Artistas Plásticos em 1974, tendo sido um dos 48 artistas que, no mesmo ano, executaram o Painel do 10 de Junho dedicado à Revolução de Abril. Foi membro designado para o primeiro Conselho Nacional da Cultura criado pelo Secretário de Estado da Cultura, Dr. David Mourão-Ferreira, em 1976, fez parte da Comissão Organizadora do Instituto Português do Património Cultural (I.P.P.C.) e da Comissão Organizadora do Museu Nacional de Arte Moderna do Porto, hoje Museu de Serralves. Tem ilustrado e dirigido graficamente numerosas publicações. Na área do Teatro realizou cenários para a peça “Volpone” encenada por António Pedro no Teatro Experimental do Porto, e para a Ópera “Livietta e Trocollo” de Pergolesi produzida pelo Grupo Experimental da Ópera de Câmara. Colaborou com o Grupo Gulbenkian de Bailado, designadamente como consultor artístico, sendo também autor dos cenários dos bailados “Mosaico”, “Sílfides”, “Cinco Poemas de Amor” e “A Voz de Deus na Solidão”, os dois últimos com cenografias de Vasco Wallencamp. É presidente da Direcção da Sociedade Nacional de Belas-Artes (S. N. B. A.) desde 1979 e Sócio Correspondente da Academia de Belas Artes. Foi Presidente da Direcção da Cooperativa de Gravadores Portugueses “Gravura” entre 1962 e 1974 e Vice-presidente da “Association Internationale  des Critiques d`Art (A. I. C. A.) e também Presidente da Secção Portuguesa, membro do Concelho Geral da Comissão Nacional da UNESCO e do Concelho Consultivo do I. P. P. C.. Exerceu as funções de Director do Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, e de Director Artístico da Revista “Colóquio Artes”, onde também fez regularmente crítica de arte – actividade que começou em 1947. São inúmeras as suas participações em exposições, em Portugal e também no estrangeiro. Obteve, entre outros, os seguintes prémios: Menção Honrosa na IV Bienal de S. Paulo (1953); Medalha de prata, como decorador, na “Expo´58” de Bruxelas; 1º prémio de Pintura na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Gulbenkian (1962); e Grande Prémio de Amadeo Sousa Cardoso (1999), Museu A. S. C. – Amarante.

Representado no Museu Nacional da arte Contemporânea (MNAC), hoje Museu do Chiado, Museu Nacional de Arte Moderna – Casa de Serralves – Porto, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (CAM), e várias colecções em Portugal e no estrangeiro.

Condecorado pelo Presidente da República, Doutor Mário Soares, com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.     

 

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