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Imagem da Capa: Vasco Costa/ Pintura 1972

Abril - Junho 2007

Vasco Costa 25ª Exposição Galeria dos Paços do Concelho

Vasco Costa pertence à “geração gestual”, e tem também um temperamento gestual. Além disso tem um corpo que sustenta fisicamente os largos gestos. (...)

Vasco Costa pertence à “geração gestual”, e tem também um temperamento gestual. Além disso tem um corpo que sustenta fisicamente os largos gestos. Ele é, assim, de direito, um “pintor gestual” – o que não é dado a toda a gente… Mas ele é igualmente um homem tranquilo que gosta do campo, das cores e dos movimentos da natureza, do céu e das árvores. Não deixa isto de juntar uma nova perspetiva à sua pintura – gestual e lírica. Gestual, lírica e sensual – porque o pintor põe o seu amor das coisas um sentimento de relação carnal. […] É certo que Vasco Costa “boxeia” a tela: o seu corpo satisfaz-se num tal desporto – mas a tela não é por isso um objecto passivamente vencido: ela se levanta e revive. (…) Vasco Costa ganhou a sua batalha, porque soube esperar: apesar do ritmo dos gestos e os voos do lirismo, a sensualidade é coisa lenta, feita de coragem e sabedoria e de amor…

1969

 

A pintura de Vasco Costa caminhou “do gesto ao signo” que é o itinerário da pintura ocidental mais válida dos anos 50 e princípios dos anos 60. Deste modo, o pintor articula-se, dentro da corrente estética que lhe compete, com os pintores “abstrato-líricos” deste período. Articula-se internacionalmente – que é a única maneira de uma articulação epocal ser historicamente significativa. A idade do pintor aparece-nos acertada com o tempo histórico da sua pintura – e acertada com a geração dos pintores que, no Ocidente, tal pintura praticam.

1970

 

A tranquila profundidade sensual em que esta pintura acaba por se resolver, num equilíbrio dinâmico em que se define uma escala de valores humanos, faz dela um dos casos mais importantes da pintura portuguesa dos anos 60, devendo reparar-se na capacidade de integração do artista em correntes estéticas que a sua geração nacional ignorou.

Dicionário de Pintura Portuguesa, 1974

 

Vasco Costa atingiu uma categoria estilística pessoal no quadro de uma “pintura-pintura” que na sua própria geração internacional foi gerada – mas à qual a tardia aparição do artista na cena parisiense não deixou de trazer prejuízo de carreira. E também em Portugal o êxito não foi longo, porque esta pintura não entrava numa prática cultural reconhecível, e, à sua chegada, outras curiosidades levavam para campos diferentes os pintores da geração estética na qual ele se inseria, por outros não ter, da sua idade. Falecido em plena maturidade, mas diminuído por doença, o pintor deixou, porém, uma obra considerável de importância histórica, como tal registada.

História da Arte em Portugal-VI, 2004

José-Augusto França

 

As “Paisagens Interiores” de Vasco Costa, embora aproveitem um movimento amplo e uma densidade estrutural profunda, não têm a menos fraqueza expressiva: são o testemunho de uma libertação apaixonante em relação a si, à criação pictórica, à escrita. E se, à maneira dos clássicos, ele atinge o natural, o jorrar imediato da vida, fá-lo, como eles, após um longo trabalho, porque a sua aparente espontaneidade é das menos espontâneas. […] A análise estrutural das suas obras mostra-o solidamente organizado, possuindo o dom da “mise-en-page”, do equilíbrio estático-dinâmico. […] E o seu requinte, a sua subtileza acompanham-se com o sentido agudo da sensualidade da matéria, da retransmissão psíquica e da cor transpositora.

Henry Galy-Carles, 1969

 

Vasco Costa é um homem apaixonado. Nele, o artista identifica-se totalmente ao homem e a sua pintura é, à sua imagem, apaixonada, muitas vezes impetuosa, sempre animada, com passagens de calma e detenções, numa atmosfera geralmente tempestuosa. Classifica-la como “oragiste”, trata-se menos de um jogo de palavras que de sugerir uma aproximação com a pintura “nuagiste” – (no mesmo quadro) da explosão de uma arte abstrata de múltiplas tendências que marcou os anos 1953-54 em Paris. […] “Fundada sobre o movimento e o gesto” (Julien Alvarad), a sua beleza se impôs a esta arte inspirada conhece uma renovação, uma vasta retomada de interesse. A esta estética se votou inteiramente Vasco Costa, em cada uma das suas obras se metendo inteiro – isso as explicando todas, inteiramente.

Georges Boudaille, 1974

 

A originalidade mais imediata da arte de Vasco Costa deriva do perfeito articular dos valores de “impressão” e de “expressão” que os seus quadros testemunham. […] Na sequência do universo carnal de Renoir, a pureza atmosférica de Monet invade os quadros recente de Vasco Costa, converte-lhe os gestos em motivações caligráficas de sinais encadeados num ritmo incessante de formas apagadas e renascidas, como na ordenação de largos círculos barrocos.

Fernando Pernes, 1972

 

O conhecimento da arte americana auxiliou-o a encontrar uma expressividade vigorosa, quando, em 1959, passou a dedicar-se inteiramente à pintura pura. Tal como outro americano instalado em Paris, Sam Francis, Vasco Costa conseguiu conjugar o dinamismo gestual com um sentido cromático luminoso e sensual que os franceses têm cultivado desde o Impressionismo. A organicidade das suas grandes pinceladas curvas e ritmadas apodera-se de toda a superfície, criando um contagiante espaço não mimético, que ele designou por “Paisagem Interior”.

Rui-Mário Gonçalves, 1986

 

 

CATÁLOGO

 

1.                  L’Apprés, 1973, acrílico s/ tela, 114 x 195 cm

2.                  Enticine, 1973, acrílico s/ tela, 114 x 195 cm

3.                  My - own, 1973, acrílico s/ tela, 130 x 195 cm

4.                  Contreversial, 1973, acrílico s/ tela, 130 x 195 cm

5.                  Stroke me hard, 1973, acrílico s/ tela, 130 x 195 cm

6.                  Symposium 3, 1973, acrílico s/ tela, 130 x 195 cm

7.                  Automnale, 1973, acrílico s/ tela, 130 x 196 cm

8.                  Calme relative, 1973, acrílico s/ tela, 150 x 200 cm

9.                  From right to left, 1973, Poliptico I a IV, acrílico s/ tela, 200 x (150 x 4) cm

10.              Paisagem Interior (Pink), 1972, acrílico s/ tela, 150 x 130 cm

11.              Paisagem Interior (Blue), 1972, acrílico s/ tela, 150 x 130 cm

12.              Los três piños (As três opiniões), n. d. (c. 1981), óleo s/ tela, 130 x 190 cm

 

Nas vitrinas expõe-se uma coleção de caricaturas (fotocópias) de personagens internacionais que Vasco Costa, sob o pseudónimo de Kovas, realizou cerca de 1977, algumas delas publicadas na imprensa de Lisboa (“Jornal Novo”). Ver “As Caricaturas de Kovas, ou as pessoas parecem-se todas” de José-Augusto França, in Colóquio/Artes, n.º 37, de Junho de 1978 – com reproduções de Giscard d’Estaing, Jimmy Carter, Raymond Barre, Mário Soares, Vieira da Silva, J-P. Sartre, Andrei  Grominko, J. Chirac, P.Mendès-France, F. Miterrand, E. Faure, Amin Dada, A. Malraux e Solzhenitisyn.

A Câmara Municipal de Tomar agradece à SNBA e à família de Vasco Costa, em Portugal e em França, a colaboração amavelmente prestada.

 

 

 

 

O Artista e a Obra

 

Vasco Costa nasceu em Lisboa em 1917, frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio, e como muitos outros artistas da sua geração, a segunda do “modernismo” português, iniciou-se profissionalmente nas artes gráficas e realizou muitos trabalhos de decoração mural, colaborando na Exposição do Mundo Português em 1940 e nas representações nacionais nas exposições de Nova Iorque e de S. Francisco. Em 1942, encontra-se dos Estados Unidos, decidiu alistar-se no exército americano, naturalizando-se para isso, e participou na guerra mundial como sargento, na companhia de Itália e França. Só por razões burocráticas manteve a nacionalidade americana até ao fim da vida. Desmobilizado em 1946, viveu casado em Inglaterra e finalmente em França, nos arredores de Paris, fazendo ao princípio trabalhos de decoração e cerâmica. Em 1956, passou a dedicar-se inteiramente à pintura no seu “atelier” e cedo, abandonando o registo figurativo que era o seu, começou a praticar uma pintura gestual. Expôs pela primeira vez, por iniciativa de J.-A. França, em 1969, no Centro Cultural da Fundação Gulbenkian, e ali voltando a expor quinze anos depois. Entretanto expôs na Galeria de L’Iniversité, em Paris, apresentado por Georges Boudaille, e em Londres; também participou no Salon de Mai e expôs em Lisboa nas Galerias Bucholtz (1969) 111 (1971) e Quadrum (1974) e na Exposição do Banco Português do Atlântico onde lhe foi atribuído “e-aequo” um dos quatro prémios (1969), e igualmente recebeu ema menção honrosa no importante Soquil nesse ano. Participou ainda em outras exposições coletivas em Portugal: “1º Exposição de Arte Moderna – Arus”, no Museu Soares do Reis do Porto, na Galeria Almada Negreiros, do secretariado de Estado da Cultura, em 1984 e 1985, e na exposição “O Mar”, na Galeria Ana Isabel, de Lisboa, nesse mesmo ano. Vasco Costa viria a falecer em Paris em 1986.

Está representado em coleções particulares em Lisboa, Paris e Londres, no acervo da S.N.B.A. e no Museu Municipal de Tomar, onde já figurou na exposição inaugural, em 2000.

Bibliografia:

Henry Galy-Carles, “Vasco Costa ou o lirismo poético”, in Colóquio n.º 54, Lisboa, Junho 1969; Fernando Pernes, “A Pintura de Vasco Costa”, in Colóquio/Artes, n.º 6, Lisboa, Fevereiro de 1972; Dicionário de Pintura Portuguesa, Lisboa, 1974; Rui Mário Gonçalves, História da Arte em Portugal -XIII – de 1945 à atualidade, Lisboa, 1986; José-Augusto França, Cem Exposições, Lisboa 1982; Idem, Quinhentos Folhetins I, Lisboa, 1984; Idem, 100 Quadros Portugueses no Século XX, Lisboa, 2000, Idem, História da Arte em Portugal VI – O Modernismo, Lisboa, 2004;

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