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Imagem da Capa: Pintura, 1970

Janeiro - Março 2011

Noronha da Costa 40ª Exposição Galeria dos Paços do Concelho

«A imagem é o que há de mais pessoal. Por isso é que agora é preciso começar por destruir a imagem, se queremos o impessoal: o impessoal pela destruição da imagem é o limiar da não dimensão.»

«A imagem é o que há de mais pessoal. Por isso é que agora é preciso começar por destruir a imagem, se queremos o impessoal: o impessoal pela destruição da imagem é o limiar da não dimensão.»

«Parece-me que o que convém mostrar a todo o transe é o problema da realização do ecrã real e a sua inversa.»

Noronha da Costa

 

 

«... no esquecimento essencial, a lembrança das coisas.»

J.-A. F., 1982

 

 

 

A poética de Luís Noronha da Costa (1942-), essa, situa-se num absurdo que vem de uma paixão filosófica por certas correntes do pensamento existencialista alemão, heideggeriano, lido como fonte de inspiração e de repúdio crítico por outras mais imediatamente plásticas, de função parisiense. A formação profissional de arquiteto, que pouco exerceu, por distanciamento propositado do mercado de encomendas, não deixa, porém, de estar presente numa consciência de valores espaciais que informou a primeira fase da sua arte, em 1967, ao seu aparecimento.

Objetos colocados em dupla situação, deles próprios e do seu reflexo, ou vistos em transparência de vidros e ecrãs despolidos, ou penetráveis através de sistemas de espelhos, num jogo sucessivo de ilusões óticas, formam construções no espaço que implicam leituras múltiplas, em imagens positivas e negativas. A estas propostas que atualizam, em «estruturas secundárias», como foi escrito, princípios de uma escultura dos primeiros anos do abstracionismo, Noronha da Costa fez suceder experiências de figuras impressas transparentes, levando a uma ambiguidade de espaço por anulação de suporte intermediário, e prosseguiu num processo de fantasmagorização, em 1972, com o uso de técnicas de tintas fluorescentes à luz que sobre elas incidam, permitindo assim a aparição de objetos num espaço envolvente e neutro.

Mas a pintura de Noronha da Costa continuou por uma via de virtualidade, tratando de sombras e de transparências em figuras que se esvaem ou surgem de um campo velado, como se lá estivessem, não estando... Este jogo filosófico do ser essencial e do que está sendo constitui o fulcro de uma pintura de certo modo «fílmica» (o pintor teve insólita exposição na Cinémathèque de Paris em 1974), que, ao longo dos anos 70, como até hoje, foi sendo composta e recomposta, com elementos variados, na definição (ou «indefinição») de «imagens de imagens», como foi escrito, numa espécie de «fascinação que a morte assombra» (M. Le Bot, 1978). Outras solicitações do pintor, com uso de relevos matéricos, ou multiplicações labirínticas de imagens, ou desdobramento de uma linha de paisagem com duplicação da natural pela sua imagem sintética, ou barrocas simulações de vagas marinhas – são outras tantas propostas ou intervenções de Noronha da Costa, numa sequência romântica, no sentido mais profundamente germânico do conceito (que G. D. Friedrich a certa altura do seu percurso poético influenciou), que lhe deu uma personalidade de notável e rara originalidade na pintura do seu tempo nacional.

 

José-Augusto França, Historia da Arte em Portugal – O Modernismo, 2004

 

 

 

Pintura aristocraticamente anti-pop, a de Noronha da Costa refere a natureza e o passado, por dados essenciais de uma poética que se afirma em nostalgia, para nisso marcar radical dimensão crítica à atualidade social e tecnológica (...) Assim, referindo toda uma ascendência e descendência romântica, que se estende de referências barrocas a outras, do «modern-style» e de recente informalismo, Noronha constata em «patines» que são de consciência do tempo que habita perante o imaginário que lhe aparece, o desértico mundo dos seus dias portugueses.

FERNANDO PERNES, 1971

 

 

 

A criação de Noronha da Costa, como toda a criação responsável da pintura, não é apenas dialética, resposta ou contrarresposta à exigência basilar do momento pictural, mas um diálogo orgânico não só com a totalidade da memória «pintada», mas com a totalidade da memória cultural. Mas, o que em muitos é citação (...), em Noronha da Costa é aparição, irrupção de antigo tempo pictural na rigorosa trama do seu próprio espaço. Daí o carácter «fantasmal» mais do que fantástico de grande parte da sua pintura, sem dúvida aquela que mais fundo e com maior originalidade exprime a sua dificuldade (e felicidade) de existir.

EDUARDO LOURENÇO, 1972

 

 

A pintura de Noronha não pinta conforme o motivo, mas segundo o aspeto (eidos). Entre o «aspeto» e o «espetro» processa-se um vaivém de recuo e de avanço da imagem desencadeado pela cor; o visível é, com efeito, a cor. O aspeto seria a forma do aparecer ótico, enquanto o espectro seria a aparição fantástica proveniente da dispersão e da decomposição de um feixe de luz solar. Estas duas noções surgem indissociavelmente unidas na obra de Noronha e formam o par constitutivo da ambiguidade pictórica.

EMÍDIO ROSA DE OLIVEIRA, 1989

 

 

Compreende-se que a vela acesa tenha sido e se mantenha um dos pretextos mais frequentes da arte de Noronha da Costa.

(...) Velas reais com a sua luz própria, espelhos reais e vidros foscos foram elementos constitucionais de instalações e objetos óticos que Noronha da Costa concebeu na segunda metade dos anos sessenta. Aí, a dialética entre objeto e coisa, luz e matéria, real e virtual, foi desenvolvida buscando um método capaz de tratar a problemática do lugar da representação.

O ecrã plano deve por isso ser compreendido, na obra (deste artista) como derivado da sua invenção de lugares de incitamento da mente.

RUI-MÁRIO GONÇALVES, 2001

 

 

 

(O ecrã) é o que separa a imagem do real – a retina é um ecrã. O real é ocultado por toda a espécie de ecrãs. O ecrã pictural de Noronha da Costa condensa na imagem todos os ecrãs que nos separam do ser. (...) O ecrã presta-se particularmente bem ao aprofundamento das preocupações estético-filosóficas do pintor, (...) Porque é que a imagem desvela? Como é que desvela? O que é que desvela e oculta? A todas (as perguntas) deve responder o ecrã.

JOSÉ GIL, 2003

 

 

 

Noronha da Costa respondeu ao fim da imagem tão proclamado e procurado na arte ao longo do Século XX com a imagem como fim. Projeto extremamente exigente e sem solução final que perseguiu de forma obsessiva, levando a experimentação a um grau de consequência raro e submetendo a sua obra a sucessivas e inesperadas metamorfoses. Deixou-nos a obra que (a exposição de 2003) procura (...) restituir na sua riqueza e complexidade.

MIGUEL WANDSCHNEIDER e NUNO FARIA, 2003

 

 

 

 

CATÁLOGO

1. Sem título, n.d.

Tinta sintética sobre tela

100 x 80 cm

 

2. Sem título, n.d.

Tinta sintética sobre tela

80 x 60 x 5 cm

 

3. A Grande Porta de Kiev, n.d.

Tinta sintética sobre tela

220 x 170 cm

 

4. A Grande Porta de Kiev, n.d.

Tinta sintética sobre tela

162 x 130 cm

 

5. Mares Portugueses, n.d.

Tinta sintética sobre tela

130 x 100 cm

 

6. Vote Nuno Gonçalves, 1973

Tinta sintética sobre tela

65,5 x 93 cm

 

7. Sem título, n.d.

Tinta sintética sobre tela e arame

80 x 100 x 15 cm

 

8. Pintura decorativa ou da inutilidade

da arte, 2010

Tinta sintética sobre tela

160 x 130 cm

 

9. Sem título, 2010

Tinta sintética sobre tela

130 x 160 cm

 

10. Sem título, 2010

Tinta sintética sobre tela

130 x 160 cm

 

11. Sem título, 2010

Tinta sintética sobre tela

130 x 160 cm

 

12. Sem título, 2010

Tinta sintética sobre tela

130 x 160 cm

 

13. Espectáculo para adultos, n.d.

Impressão e colagem sobre madeira

92 x 73 cm

 

14. Se beber não pinte, 2000

Impressão sobre papel colado sobre madeira

88,5 x 69,5 cm

 

15. Objecto, n.d.

Chapa metálica e vidro

164 x 26,5 x 16,5 cm

 

16. Objecto, n.d.

Chapa metálica e vidro

200 x 42 x 52 cm

 

17. Sem título, 1967

Madeira e meias esferas de vidro pintadas a têmpera vinílica, chapas de acrílico claro texturado em diamante, espelhos e luz eléctrica

49 x 170 x 55 cm

 

18. Objecto, n.d.

Madeira e vidro

133 x 53 x 53 cm

 

19. Objecto, c. 1968

Madeira, vidro espelhado, plástico

e acrílico

19 x 24,2 x 16,2 cm

 

20. O Construtor de Anjos, 1978

Media metragem, 41’

Formato videográfico DVD

 

A Câmara Municipal de Tomar agradece ao autor e à Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema a colaboração amavelmente prestada.

 

  

 

 

O artista e a obra

 

Luís Noronha da Costa nasceu em Lisboa em 1942. Arquiteto diplomado pela E. S. Belas Artes de Lisboa, é pintor e cineasta.

Expôs pela primeira vez em 1962, individualmente, em Lisboa, Munique e Paris. Desde 1967 tem exposto com regularidade em Lisboa (Galeria Quadrante e Galeria 111, apresentação de Fernando Pernes, em 1967; Galeria Buchholz, apresentação de José-Augusto França, em 1968; Galeria 111 e S. N. B. A., apresentação de F. Pernes, em 1972; Centro Nacional de Cultura, em 1979; com Joaquim Rodrigo, Centro Nacional da Cultura, apresentação de J.-A. França, em 1980; Galeria da Imprensa Nacional e Galeria Arcano XXI, apresentação de H. Wohl e João Sousa Monteiro, em 1982; Galeria Arcano XXI em 1984; Galeria Imprensa Nacional («Mares Portugueses») em 1987; Galeria Nasoni, apresentação de F. Pernes, em 1988; Galeria Nasoni, apresentação de J.-A. França, em 1990, 1992 e 1993, apresentação de B. Pinto de Almeida; Galeria Artela , em 1996 e 1997; Galeria Valbom, apresentação de Rui Mário Gonçalves, e Galeria de São Bento e Galeria Bonheur du Jour, em 2001; Sociedade Nacional de Belas Artes («Piero della Francesca após Lucio Fontana»), em 2005; Galeria António Prates («A Grande Janela de Kiev») em 2006 e 2009, e com Eduardo Nery em 2010. Expôs também individualmente no Porto em 1971, 1991, 1994, 1997, 1999, 2002, 2004, 2006 e 2007, no Museu Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco, em 1985, no Museu Amadeo de Souza-Cardoso , de Amarante, em 1992, no Centro Cultural de Cantanhede, em 2000 e na Galeria Sete, de Coimbra, em 2007. Teve exposições em Paris, na Cinémathèque Française, em 1975, com apresentação de José-Augusto França, em Munique, Galeria Christoph Durr, em 1976, em Bruxelas, Galeria Rencontre e em Washington Galery, em 1983.

 

Participou nas representações nacionais nas Bienais de São Paulo e Veneza, em 1969 e 1978,no Musée d´Art Moderne de la Ville de Paris, e em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, em 1976,na Royal Academy of Arts, Londres e no Instituto degli Inncenti, Florença, em 1978-1979,no Museu de Munique, em 1980. Esteve presente em Paris na Feira FIAC de 1988, em Madrid na Feira ARCO 89, nos stands da Galeria Nasoni, em Bolonha na Arte Fiesa de 1977 no stande de Galeria Quadrum. Participou ainda em várias exposições coletivas em Lisboa e no Porto. Em 1971 foi eleito pelos críticos da AICA para realizar um dos quadros da nova decoração da Brasileira do Chiado e em 1972 foi apresentado por J.-A.França na exposição coletiva da AICA, na S.N.B.A. Em 1983 teve uma exposição retrospectiva na Fundação Gulbenkian e em 2003 outra, mais vasta no Centro Cultural de Belém, realizada por Nuno Faria e Miguel Wandschneider “Noronha da Costa Revisitado 1965-1983” – cujo catálogo constitui uma espécie bibliográfica essencial, a juntar ao ensaio de Emídio Rosa de Oliveira «A Pintura de Noronha da Costa», Imprensa Nacional, Lisboa, 1989.

 

Obteve os seguintes prémios: Soquil, 1969, Prémio Europeu de Pintura do Parlamento Europeu, Estrasburgo, 1999, e AICA (Associação Internacional dos Críticos de Arte, Lisboa) em 2003. Está representado no Centro de Arte Moderna da Fundação C. Gulbenkian, no Museu de Serralves, no Museu Amadeu de Souza-Cardoso, Amarante, no Museu Municipal de Tomar – Núcleo de Arte Contemporânea – Doação José-Augusto França (6 peças), na Fundação Oriente, na Fundação Berardo, na Washington Gallery, em numerosas coleções particulares e bancárias (BPN,Totta & Açores, Espírito Santo, BIC, BPI, CGD, Deutsh Bank).

Realizou os seguintes filmes: Karl Martin (17 min), Padres (42 min), D. Jaime ou a Noite Portuguesa (63 min) em 1974, e O Construtor de Anjos (41 min) em 1978 – que será projetado no quadro da presente exposição.

 

 

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