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Imagem da Capa: A Preto e Branco, Pintura, 1972
De uma maneira geral, trabalho a partir de uma ideia organizadora que se vai concretizando através da manipulação de materiais, principalmente cartões e panos recortados que vou colando segundo determinados esquemas. Entre os estudos e a obra definitiva há um lugar importante paro a improvisação. (...) Um simples pormenor de uma porta ou o perfil de uma montanha podem servir de molas propulsoras para a criação de um quadro. (...) Para mim, a pintura, a “mensagem’ se assim lhe queremos chamar, não existe no sentido de discurso. Quero dizer que “conteúdo” não se identifica com “assunto”. As formas picturais são modelos autónomos que, evidentemente, têm a ver com a nossa experiência vivida e com todo o complexo individual e social. Uma pintura é uma coerência formal cujo conteúdo é, em grande parte, determinado pela nossa consciência intuitiva.
Manuel Baptista, 1968
… Ora os quadros de Manuel Baptista são organizações coloridas que pelo desenho se com põem. Isto é: vivem uma vida gerada pela cor, mas dentro dela existem autonomamente e definem essa existência estética através dum desenho que estabelece uma composição Formal. A cor, funcionando integradamente no quadro, torna-se colorido, e o desenho, integrado também, ou inserto, em vez de decorar, compõe. É evidente, e nisso pode enganar-se o espectador, se tomar o colorido por cor e a composição por decoração que esta pintura tem um problema, ou dois problemas convergentes (…) Tudo é leve e fino nesta pintura — da cor ao recorte sinuoso das formas leve e finamente desenhadas. E, na festa espirituosa deste “rocaille” irregular e delirante, há uma ilusão que a luz provoca, que sem ela se apaga — uma ilusão que é e não é, conforme quisermos ironicamente saber...
José-Augusto França, 1968
Homem do sul português, das superfícies luminosas e quentes do Algarve, a aparência das coisas constrói-se nessa mutação sinuosa dos perfis que o encontro da luz e da sombra subtilmente corporiza. O maior rigor quadricula, geometriza, organizando o que, embora existindo, é fugitivo e quase que só um aparência de si mesmo. Também resíduos de uma nobilíssima presença abstratizam-se na sua memória, dentro do tempo. (…) (O pintor) tem a elegância de os transportar como memória do mundo para um lugar onde a sua vibração ainda faça encontrar as imagens com os ritmos em que a sua aura vivencial de certo modo mítica se desdobra.
Fernando de Azevedo, 1983
Recorrendo ao recorte e colagem de formas geométricas e ornamentais que, aderentes ao plano do suporte, se ajustam e se sobrepõem, em relevo, tais como as peças de um “puzzle”, Manuel Baptista constrói um espaço puramente plástico, onde a linha intervém como elemento dinâmico. (…) As formas organizam-se segundo estruturas elementares e não rígidas, abertas à improvisação e à intervenção do acaso, o que acentua o carácter lúdico desta pintura sempre em vias de se transformar, ainda que lentamente e não apenas à superfície. (…) E é por testemunhar o sentido inesgotável destes jogos que a sua pintura se apresenta tão amável e generosa quanto aberta a múltiplas leituras.
Eurico Gonçalves, 1981
Batidos pela luz rasante, os relevos evidenciam linhas que se interrompem na passagem do brilho para a sombra (…) propondo sempre um jogo entre o que é e o que parece e estimulando dessa forma o julgamento visual, a atitude imaginativa (criativa) de quem lê o objeto. Agora o jogo completa-se de forma decisiva com o emprego de materiais que reagem de formas diferentes à luz ambiente e que estabelecem conotações mais diretas com a realidade, apesar do carácter principalmente ornamental das peças e da sua conceção abstrata. A transformação dos dados técnicos, no entanto, em nada alterna a profunda coerência da pesquisa plástica de Manuel Baptista: ela só vem sublinhar que o caminho até agora percorrido pelo artista está longe do esgotamento e permite ainda a exploração de novas organizações formais dentro de uma escolha estética que se mantem equilibrada, na fórmula e na forma, desde a proposta surpreendente dos relevos brancos.
Rocha de Sousa, 1974
Por vezes, as formas surgem em aglomerados convulsivos numa apetência regressiva ao caótico que a ansiedade promove. Pouco a pouco, no entanto, à desagregação niilista de frequente conotação erótica, sucede-se o empenhamento na valorização de ritmos de ordenação decorativa (…) Ao pintor impõem-se depuração unitária e crescente amplitude de legibilidade gráfica, mobilizando a agilidade executiva.
Fernando Pernes, 1984
Baptista foi um dos primeiros pintores portuguesas a abandonar o conceito de pintura emoldurável. Ao deixarem de ser quadros, as suas pinturas-relevos não abandonaram o poder de sugestão profunda que apenas as longas tradições permitem alcançar.
Rui Mário Gonçalves, 1993
O desenho é o eixo da atividade criativa de Manuel Baptista. Ainda quando chamamos pintura aos seus trabalhos, poderíamos, sem errar, chamar-lhes antes desenhos. (…) O desenho, ou a prática de desenho, nele, revelasse em muitos níveis. Há um estado muitas vezes associado ao esboço e estudo quer de esculturas quer de pinturas. (…) Há depois, uma etapa central de aprofundamento, quando o desenho atinge plena autonomia criativa e disciplinar. (...) E há ainda a prática derivativa, que nos leva a descobrir, nas pinturas e nas esculturas, ecos formais ou concretos da presença primeira e última do desenho.
João Pinharanda, 2011
A liberdade do desenhador-pintor é total. Em posse dos princípios de construção da sua linguagem, importam-lhe mais os movimentos do desfolhar do plano de que resultarão as formas, do que tal forma em si valendo pelas suas características próprias. Porque estas resultam daqueles movimentos, como aquelas florestas impenetráveis marulham nas dobras profundas das superfícies. E, de cada vez, em cada movimento de esfoliação dando origem a novas formas, é a fulgurância da força primitiva que anima o desenho, mesmo nas suas expressões mais melancólicas. Fulgurância da estranheza pura, não inquietante, de um falso décor — porque estamos a lidar, nos traços e cores visíveis, com o mais extraordinário e mais escondido do sensível.
José Gil, 2011
Catálogo
1. Paisagem em Amarelo, 2002
Acrílico com colagem s/ tela
81x65 cm
2. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
105x65 cm
3. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
4. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80cm
5. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
6. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
7. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
8. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
9. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
10. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80cm
11. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
12. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
13. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
14. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
15. Sem Título, 2006
Tinta-da-china s/ papel
120x80 cm
16. Sem Título, 2006
Grafite s/ papel
120x80cm
17. Sem Título, 2006
Grafite s/ papel
120x80 cm
18. Sem Título, 2006
Grafite s/ papel
120x80 cm
A Câmara Municipal de Tomar agradece ao artista, a colaboração amavelmente prestada.
O artista e a obra
Manuel Baptista nasceu em Faro, em 1936. Participou pela primeira vez numa exposição coletiva em 1956, no Círculo Cultural do Algarve, Faro. Em 1957 parte para Lisboa, onde frequenta o curso de Arquitetura na ESBAL (Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa), que mais tarde abandonará para se dedicar inteiramente à Pintura. No mesmo ano, realizou a sua primeira exposição individual no Círculo Cultural do Algarve, Faro. Em 1960, ilustra a capa para Cadernos do Meio-Dia, Faro, nº 5, Fevereiro, a primeira de uma longa série de arranjos gráficos. Conclui o Curso Complementar de Pintura na ESBAL, 1962. Nesse ano parte para Paris, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, onde reside até 1963. Em 1968, vive em Ravena, Itália, com uma Bolsa do Instituto da Alta Cultura. Foi Professor Assistente de Pintura na ESBAL entre 1964 e 1972. Realizou a sua primeira obra pública em 1971, por escolha da Secção Portuguesa da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte), pintando uma das onze composições para a renovação da decoração do café “A Brasileira”, em Lisboa. Em 1972, executa um conjunto de painéis de madeira na Dependência de Sacavém do Banco Nacional Ultramarino. Dois anos depois, em 1974, participa na pintura coletiva comemorativa da Revolução de Abril realizada na Galeria de Arte Moderna, em Belém. Entre 1977 e 1980, desloca-se regularmente a Lippstadt e Schmallenberg, na República Federal da Alemanha, onde trabalha e realiza quatro tapeçarias para a Fábrica Falke (Imago). Em 1988, apresenta a primeira retrospetiva de desenho e pintura (1956-1988) no Convento do Espírito Santo, Loulé. Realiza uma segunda retrospetiva de pintura (1963-1990) na SNBA (Sociedade Nacional de Belas-Artes), Lisboa. Finalmente, em 1996, na casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, Almada, vê concretizada a sua primeira exposição antológica. No mesmo ano, realiza os primeiros estudos para a intervenção plástica na estação Quinta das Conchas, Lumiar, Metropolitano de Lisboa. Entre 1990 e 2003, assume a Direção das Galerias Municipais de Faro (Trem e Arco). Realizou até cerca de cinquenta exposições em Portugal, tendo exposto também na Alemanha, em Paris (Fundação Calouste Gulbenkian) e no Museu de Arte de S. Paulo (Brasil). Participou em cerca de oitenta exposições coletivas em Portugal e também em Paris, Nova Iorque, Espanha, Brasil, Suécia, Grécia e Japão.
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