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Imagem da Capa: Le Grand Matin, 2002

Julho – Setembro 2007

Fala Marim 26ª Exposição Galeria dos Paços do Concelho

(…) Acontece que Fala Mariam nele [domínio do símbolo] se situa, igual (ou desigual) mente, através do seu próprio discurso e como tal se considerando (“sou uma tardia consequência do simbolismo”) ...

DE FALA MARIAM E O SEU PROPÓSITO

(…) Acontece que Fala Mariam nele [domínio do símbolo] se situa, igual (ou desigual) mente, através do seu próprio discurso e como tal se considerando (“sou uma tardia consequência do simbolismo”), mas tendo dito antes “sou uma mística”, que é maneira de assumir a sistemática do símbolo numa consciência interior. Que ela escreva também, em outras notas pessoais de trabalho, que as imagens produzidas são “imagens escondidas”, confirma esta consciência. Que, em outras notas mais recentes, Fala Mariam marque a origem das suas formas num movimento energético de espiral – indo ao informal ou ao geométrico, por efeito de forças interiores ou exteriores – dá conta de um saber biológico dos elementos de composição de que se trata. E aí uma referência deve vir, em termos portugueses, que é a de Joaquim Rodrigo, num discurso de outra inocência primitiva.

A estas citações pode responder-se que as forças, por sua natureza dinâmica, são centrífugas ou centrípetas, e isso se verifica nos resultados formais; e também que as imagens estão sempre escondidas na sua aparência. Quanto ao tardio do simbolismo de Fala Mariam, há que dizer que não o é, e que só por academismo o seria, não por posição pessoalmente assumida no mundo dos símbolos – que é o de Klee.

E a Klee por referência voltamos, olhando esta selecção que a pintora fez, de meados de 80, até ao “Tlalac” de 87, numa lembrança coerente de formas jogadas que se libertam até uma figuração de maior e fantomático humor. Depois, observa-se uma picturalidade que se acentua já em 93, particularmente em “Tríade”, mas para preferir, logo depois, planos lisos que o negro comanda, mordendo ou sendo mordido por uma segunda cor, ou desenhado a naquim sobre o branco do papel.

Entre 1977 e já 2003, as duas situações respondem-se e ajustam-se, entre recortes de planos que podem fazer lembrar certa fase de Pomar (“Le Sphinx”), mas logo se libertam por outra vontade de pintura e vão até ao “Espirit du Nil” (2003) – mas levando consigo, nas séries de “Scar Ecstasy” ou de “Capelas Orientais” uma caligrafia compósita ou livre, que remete para um questionamento formal cujo carácter simbolista se confirma.

Fala Mariam tem vinte anos de percurso que individualmente fez, autodidacta voluntária, perguntando-se sobre o sentido da sua criação numa modernidade que procura entender, não na história suficiente mas na que lhe é necessária – e assim, em atenta serenidade, evita pânico. Por isso cita também Rimbaud que, dizendo da obrigação de ser “absolument moderne”, embora não se tenha reparado (ou se ignore), põe todo o sentido da frase no “absolutamente” – que é o compete à arte, quando, as mais das vezes, ela se contenta com o “relativamente” das modas. Como na vida, que é outra coisa.

Fala Mariam, tal como Fernando de Azevedo, primeiro que todos, entendeu em 1987, falando do “maravilhoso” e eu, logo depois, do “miraculoso”, em prefácios sucessivos de exposições – tem a rara qualidade, “sine qua non” no mundo português delas, de se querer fora de modas.

Apresentação de “Obras Escolhidas, 1983-2003”

José-Augusto França, Jarzé, Agosto de 2004

 

Podemos ir fundo, procurar antecedentes, a Índia, orientalismos, Miró e a sua colorida irreverência sinalética. Podemos perceber como aceita a religiosidade: não sentimentalmente, mas não que se obscureça o sentimento, pensando-o. Uma equivalência da religiosidade que não a refere, uma neutralidade impaciente até à ironia; o sinal do erotismo que nasce, naturalmente, de outro sinal, de outro território. Em tudo isto que é um dialogante vaivém de interpenetrações se afirmam e diluem memórias, cultos, amores e abjecções, escárneos e tentativas de tocar o sublime. O que, nas antigas aguadas, límpidas ou marmoreadas, transparecia da própria transparência é talvez menos visível presentemente na opacidade mais matérica da tela. Mas por isso, também, procura-se noutra exigência de pintura, mais corpórea e, ao mesmo tempo, mais encobridora se bem que luminosa e ágil; mais distanciada, se possível. Menos adivinhável, sem dúvida, ainda. O que é expresso, guarda-se a si próprio da revelação que revela.

Fernando de Azevedo

Fevereiro de 1992

 

Há uma radical diferença de escala dos figuremas, que facilmente se dividem em grandes e pequenos, sem tamanho intermédio. Isto provoca um efeito de “transparência”, ou de observação em “filigrana”, porque, quando os olhos percorrem a superfície, seguem mais lenta e continuamente os figuremas maiores, e simultaneamente são assaltados por instantâneos figuremas minúsculos.

A palavra “transparência” ocorre-nos frequentemente ao considerarmos estes tipos de contraste, não apenas por alusão das próprias figuras, mas também pelos efeitos derivados da diferença das velocidades de percepção das diversas “grelhas”. Activando a percepção múltipla, simultânea e rápida, estes “quadros” sensuais e refinados revelam-se menos ao consciente do contemplador do que ao seu inconsciente, pois esta parte do mundo psíquico está naturalmente mais capacitada para tão complexa percepção. Esta é, aliás, a mais profíqua percepção estética.

A pintura concebida como escrita encontra, pois, uma versatilidade extraordinária na expressão de Fala Mariam. A pintora poderia recorrer aos dados da história da pintura deste género, desde os antigos egípcios aos abstraccionistas actuais. Mas ela, mesmo que, por mera curiosidade, obtivesse informações acerca de rituais secretos que nesta milenária pesquisa por vezes se infiltram, recusaria qualquer signo convencional, mas ainda se ele lhe fosse exteriormente imposto, para se concentrar no que é genuinamente seu e pelo qual se responsabiliza: uma tarefa sensível que acontece aos símbolos.

Rui-Mário Gonçalves

Lisboa, Fevereiro de 2007

 

 

Catálogo

 

Tlalac, 1987
nanquim s/ papel

42 x 44 cm

Coleção particular

Falsa Ogiva para Charles Parker, 1993
Acrílico s/ tela

73 x 92 cm

En Lieu Sûr, 1994
acrílico s/ tela

72 x 110 cm

Coleção particular

Outlanders, 1998
acrílico s/tela

100 x 100 cm

Battlesleep, 1998
acrílico s/ tela

100 x 100 cm

Phoenix (Petit Matin), 1999
acrílico s/ tela

50 x 50 cm

My Daylight, 1999
acrílico s/tela

50 x 50 cm

Sweet and lovely, 1999
acrílico s/ tela

50 x 50 cm

Once (Guignard nos Infernos), 2000
acrílico s/ tela

72 x 110 cm

Anfisbena, 2000
acrílico s/ tela

50 x 200 cm

Composição, 2001
acrílico e nanquim s/ papel

41 x 31 cm

“Do Retiro”, 2003
acrílico e pastel s/ papel

70 x 50 cm

“Do Retiro”, 2003
acrílico e pastel s/ papel

70 x 50 cm

“Do Retiro”, 2003
acrílico e pastel s/ papel

70 x 50 cm

A Porta, 2005
acrílico s/ tela

55 x 38 cm

Coisas de Noiva, 2005
acrílico s/ tela

20 x 20 cm

Paisagem, 2006
acrílico s/cartão

48 x 36 cm

Coleção particular

Fevereiro, 2006/7
acrílico s/ tela

70 x 70 cm

Coleção particular

 

A Câmara Municipal de Tomar agradece aos colecionadores e à Galeria São Mamede a colaboração amavelmente prestada.

 

 

A ARTISTA E A OBRA

Fala Mariam é natural de Lisboa (1962).

Exposições individuais:

2007 – “Os Dois Espíritos, A Porta e Os Primeiros Anti-Símbolos”, Galeria SÃO MAMEDE, Lisboa; Catálogo: texto de Rui Mário Gonçalves.

2004 – Pintura 1983-2003/Obras Escolhidas, Fundação Mário Soares, Lisboa; Catálogo: texto de José-Augusto França.

 2003 – “As Capelas Orientais”, Banco de Portugal, Lisboa.

2002 – “Colour and Symbol”, REVERSO, Lisboa; Catálogo: texto de Gisela Rosenthal.

2001 – “Monochromes”, REVERSO, Lisboa.

1998 – “Mitografias”, Galeria Municipal de Vila Franca de Xira; Catálogo: texto de Cristina Azevedo Tavares.

1995 – Galeria de Arte Moderna da S.N.B.A., Lisboa; Catálogo: texto de Rui-Mário Gonçalves.

1992 – Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; Catálogo: textos de Fernando de Azevedo e de José-Augusto França.

1987 – Galeria ANA ISABEL, Lisboa; Introdução pelo pintor Fernando de Azevedo.

1986 – Galeria de Arte Moderna da S.N.A.A., Lisboa.

 

Principais exposições coletivas:

2005 – “Cristo, Palavra e Imagem”, S.N.B.A., Lisboa.

2003 – 2.ª Edição do Grande Prémio Banif, Lisboa.

2002 – “100 anos /100 artistas”, Salão da S.N.B.A., Lisboa.

2000 – “Mote e Transfigurações”, Salão da S.N.B.A., Lisboa.

1999 – Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian, Paris; Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, Lisboa.

1998 – “Sensibilidades Femininas no Nosso Tempo”, Palácio Foz, Lisboa.

1997 – Prémio Nacional de Pintura Júlio Resende, Gondomar.

1995 – Bienal da Maia; “A Música e outras Imagens”, Estremoz.

1992 – Bienal de Chaves.

 

Outros Dados:

2002 – Prémio Maluda.

1997/8 – Prémio de Criação Artística subsidiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

1992 – Prémio de Pintura da ONU (em colaboração com a S.P.A. e a Cada da Imprensa); Prémio de Aquisição, Bienal de Chaves.

1986/8 – Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.

 

Representada em coleções institucionais e particulares de Portugal, França, Brasil e EUA.

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