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Imagem da Capa: Pintura, n.d. – Série Corrente de Ar

Abril – Junho 2012

Armanda Passos 45ª Exposição Galeria dos Paços do Concelho

Armanda Passas, entre o “novo figurativo” começado polémico e lisboetamente com Skapinakis, tem, mais do que qualquer outro pintor, uma posição que historicamente se diria de “out sider”. (..)

Armanda Passas, entre o “novo figurativo” começado polémico e lisboetamente com Skapinakis, tem, mais do que qualquer outro pintor, uma posição que historicamente se diria de “out sider”. Será por isso que (”mea culpa”) a ignorei na página 180 da última História da arte em Portugal, que jurei escrever, em 2006? … Quando tais posições, não sendo as mais historiáveis, podem ser, por heterodoxia, as mais interessantes na história longuíssima da arte, bastas vezes sacrificadas, sem colher registo na discurso mais imediatamente acertável. (…)

Dir-se-ia que, sem prejuízo de outros mais ou menos aclamados, Armanda Passos é, de certo modo, em termos de figuração, o oposto da Paula Rego, por opção formal humoristicamente antiacadémica (de quem sabe também diplomadamente pintar), decerto, mas sobretudo porque, onde Paula Rego conta histórias em sua casa, ela as não conta — e tem o malicioso bom gosto de intitular as suas telas só pelo que fisicamente são, a óleo... Ora, porém, Armanda Passos convida o seu espectador a que o faça, pondo-lhe em cena dramática as personagens necessárias para isso. (…)

Ou a sua única personagem multiplicada — esta mulher gorda, de anatomia escondida em vestes coloridas, fisionomia inexpressiva por igual, em máscaras de sobrolhos peludos, e mãos e pés de dedos papudos, em seu desenho articulado. Igualmente, monotonamente, obsessivamente, tranquilamente, em sua prática e sua certeza que vem desde antes dos anos 80. (…)

Pois que faz esta mulher informe de seios, barriga e coxas, que em cada composição a pintora encena com outras, num teatro populoso, como se conversassem a mesma conversa de chafariz e praça pública, caseira ou de mercado? A sugestão de mercado ou a sua ideia, virá dos peixes que elas transportam, ou tomam asas para voar, avejões canhestros, com bico de pau, entre cobras e outros répteis. De qualquer modo, peixes são — únicos seres vivos que, com as suas mulheres, Armanda Passos quer pintar.

Porquê mulheres? Porque sim, como suficiente razão. Porquê peixes? Há leituras simbólicas para mulheres e peixes, sempre possíveis, psicanaliticamente supostas, e bíblicas até, para desculpa do leitor — mas que a este que sou não servem, que de tais facilidades sempre psicoesteticamente desconfiei. (…)

Mulher invasiva que nasceu uma vez numa tela de não sei que data, para nunca mais a deixar — de tela a tela, de desenho a desenho que tem sempre uma importância de verificação. A prova pelo desenho que, em pintura, o crítico deve sempre exigir!

A mulher gorda, etc., etc., presente e fascinante no seu colorido álacre, sem sombra nem modelagem nos “à plats”, mas sábia modulação que se multiplica por detrás e pela frente, sempre de pé por não poder dobrar os volumes do corpo, por demais gordo para ser sexuado. E de mulher por não ser de homem, na escolha inicial da pintora. Assim vou observando e escrevendo, a ela preso, a esta mulher etc., etc., que raramente se despeitora e uma só vez desnuda coxas. (…)

… Um dia já distante, e a propósito, escrevi assim: “Queres figuração, queres? Ora toma!...”

Porque, em matéria de figuração, só a grotesca e caricatural mais conta, na realidade que refaz e na verdade que comprova, semântica, social, mítica e poeticamente. Como nas personagens de Hieronimus Bosch.

…Ou... Direi? É que... (pausa) E se as mulheres de Armanda Passos, plurizando-se como fazem nos olhassem fitas, como os sessenta homens de Nuno Gonçalves (também só com duas mulheres, no seu caso), igualmente sem espaço onde vivessem a suo imobilidade?... As mulheres de Armanda Passos, em imagens e semelhanças informes e assexuadas, numa imobilidade mais sagrada do que possamos supor, ou modestamente entender, hoje em dia...

Ai, como as coisas puderam mudar em Portugal, em quase 600 anos!...

 

José-Augusto França, 2011

 

 

 

 

Em Armanda Passos, o barroquismo imaginativo e o visionarismo de projeção afinca arrancam a manchas matéricas e torturadas, figuras de entre o terror e o Fascínio, emergentes de luz ou noite gritante.

Consigo, a figuração é de fulgurações opalescentes que conquistam superfícies vibrantes. Pintura de aparição, lirismo do angélico e do fantasmático, a sua obra afirma o nascimento de uma nova artista. E traz esse certificado dum universo fetal, banhado ainda daquela estranha aura sangrenta que é sempre preço de quanto emerge para ouro solar ou para o azul noturno, entre as trevas de dolorosa génese-caminho de plenitude.

Parada de monstros divertidos, as figurações de Armanda Passos conservam, porém, a aura melancólica dos circos da infância. A elas ficou colada a festa dos palhaços. Nelas, há rastos de ternura e alegria, redimindo a fealdade dos corpos obesos.

Fernando Pernes, 1 978

 

Criaturas da terra e do mar, mulheres e peixes, penetram em nós através de um magnético olhar, onde há tranquilo espanto, uma certa perversidade ou susto, por vezes o ambíguo esboço de um sorriso. É sempre mistério (…) E sempre a viscidez, a pupila gelada, quase cruel, dos monstruosos peixes, que podem ser também peixes-pássaros, volteando em torno das feiticeiras ou presos a elas, híbridos, sedutores na sua fealdade. Esta hierática comédia, em que se justapõem e confrontam amarelos muito vivos, roxos, azuis brilhantes que parecem vir de telas abstratas para uma nova figuração com marcas surrealistas, este diálogo tão rico de tonalidades excessivas, sensuais, acentua dialeticamente o que há de pétreo, parado, nas cabeças indecifráveis, nos corpos escondidos daquelas mulheres, como se desejos frios, fantasmais, os habitassem. (...) Maravilhosa pintura, isto é, tecida de maravilhas como a dos contos mágicos com cinco e seis leituras, para lá do absurdo, é esta de Armanda Passos, onde se cruzam sonhos e o inconsciente semeia flores acerbas nesses lábios que não consentem em dizer-nos o que deles queremos ouvir. (…) Todo este mundo é onírico e simbólico!

Urbano Tavares Rodrigues, 1 999

Não sei o que a História da Arte dirá. Sei que vale a pena ter as suas representações por perto para embelezar o nosso quotidiano e não sermos pessoas banais. Armanda Passos pertence à galeria dos artistas que escrevem a sua própria e inconfundível arte poético. E isso, para os atentos, é a mais importante das moedas de oiro que a pintura pode dar.

Lídia Jorge, 2010

 

 

Sobre a obra de Armanda Passos escreveram, também, Mário Cláudio, José Saramago, Vasco Graça Moura, António Alçada-Baptista, David-Mourão-Ferreira, Eduardo Prado Coelho, Júlio Resende, Maria João Fernandes, Álvaro Siza, Luís de Moura Sobral, Raquel Henriques da Silva.

 

 

 


Catálogo

1 - Sem Título, a.n.d.

Série Corrente de Ar

Óleo s/ tela, 100x90 cm

 

2 - Sem Título versus “Mulher-Mollusco”, 1977

Tinta-da-china s/ papel

30x41 cm

 

3 – Sem Titulo versus “Mulher-Gémea”,1978

Tinta-da-china s/ papel

30x41 cm

 

4 - Sem Título verses “Mulher-das Luvas Negras”, 1978

Tinta-da-china s/ papel

30x41 cm

 

5 - Sem Título (Porto-AP-II-81), 1981

Tinta-da-china s/ papel

28,8x28 cm

 

6 - Sem Título (OS-AP-VI-81), 1998

Tinta-da-china s/ papel

41x30 cm

 

7 - Sem Título versus “Mulher-Bisâncio”, 1983

Tinta-da-china s/ papel

28x 28 cm

 

8 - “Os Patos”, 1984

Tinta-da-china s/ papel

45x63 cm

 

9 - “Aves”, 1986

Tinta-da-china s/ papel

42,5 x 59 cm

 

10 - “Aves” 1986

Tinta-da-china s/ papel

42,5x 59 cm

 

11 - Sem Título versus “Pombas”, 1986 Tinta-da-china s/ papel

120x80cm

 

12 - Sem Título versus “Mulher-Abraço”, 1987

Serigrafia, 28x28 cm

 

13 - “O Jardim das Delícias”, 1997

Serigrafia

49,7x65,3 cm

 

14 - Sem Título versus “Mulher-Mollusco”, 1977

Serigrafia

40x52,2 cm

 

15 - Sem Título versus “Mulher-Mollusca”, 1977

Serigrafia,

40x52,2cm

 

16 - Sem Título versus “Mulher-Pêndulo”, 1977

Serigrafia

49x59,5 cm

 

17 - Sem Título versus “Mulher-Pêndulo”, 1977

Serigrafia

49x59,5 cm

 

18 - Sem Título versus “É da Lua que eles gostam”, 1978

Serigrafia

54,5x36,3 cm

 

19 - Sem Título versus “Mulher-das Luvas Negros”,1978

Serigrafia

46,5x55 cm

 

20 - Sem Título versus “Mulher-das Luvas Negras”,1978

Serigrafia

46,5x55cm

 

21 - Sem Título versus “Mulher-Gémea”, 1978

Serigrafia

46,5x54 cm

 

22 - Sem Titulo versus “Mulher-Gémea”, 1978

Serigrafia

46,5x 54 cm

23 - Sem Título (PortAP-II-81), 1978

Serigrafia

50x70cm

 

24 - Sem Título (OAP.VI.81), 1981

Serigrafia

64x46cm

 

25 - Sem Título versus “Mulher-Bisâncio”, 1983

Serigrafia

70x50 cm

 

26 - Sem Titulo (AP-83-III), 1983

Serigrafia

40x52,2 cm

 

27 - Sem Titulo (AP-83-IV), 1983

Serigrafa

70x50 cm

 

28 - Sem Título (AP-83-V), 1983

Serigrafia

70x50 cm

 

29 - Sem Título (AP-83-VI), 1983

Serigrafia

70x50cm

 

30 - Sem Título (AP-83-VII), 1983

Serigrafia

70x50 cm

 

31 - Sem Título (AP-83-VIII), 1983

Serigrafia

70x50 cm

 

32 - “Os Patos”, 1984

Serigrafia

50x70 cm

 

33 - “Aves”, 1986

Serigrafia

50x70 cm

 

34 - “Aves”, 1986

Serigrafia

50x70 cm

 

35 - Sem Título versus “Pombas”, 1986 Serigrafia

50x70 cm

 

36 - Sem Título versus “Mulher-Abraços”,1987

Tinta-da-china s/ papel

70x50cm

 

 

A ARTISTA E A OBRA

 

Armanda Passos nasceu a 17 de Fevereiro de 1944, no Peso da Régua.

Licenciada no curso de Artes-Plásticas da Escola Superior de Belas-Artes do Porto.

1977/79 Monitora da Tecnologia de Gravura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.

Membro do Grupo “Série” Artistas Impressores. Professora da Tecnologia de Serigrafia no Centro de Reabilitação Vocacional do Porto.

Desde 1976, participou em numerosas exposições coletivas em Portugal e no estrangeiro (Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Itália, Suíça, Suécia, Polónia, Inglaterra, Estados Unidos, Macau).

Representou Portugal em vários certames internacionais, por exemplo em Heidelberg, na V Biennal of European Graphic Art (1988); na Polónia, na Exposition Internationale de la Gravure – “Intergrafia 91”, no Pawilon Wystawowy Bwa, Katowice; no Centre de la Gravure et de L’Image Imprimée, La Louvière, na Bélgica, em 1992.

Premiada pelo Ministério da Cultura na Exposição “Homenagem dos artistas portugueses a Almada Negreiros”, em 1984.

Realizou, anualmente, exposições individuais desde 1981, na Árvore Porto; Gal. Módulo, Porto e Lisboa; Gal. S. Mamede, Lisboa; Gal. Gilde, Guimarães; Arts Center Exhibitions Univ. of London, Londres; Galeria Arcada, Estoril; Galeria Universidade do Minho, Museu Nogueira da Silva, Braga; Galeria Degrau, Porto; Museu de Amadeo de Sousa Cardoso, Amarante; Galeria du Cygne, Genebra; Cordeiros Galeria, Porto; Galeria Mário Sequeira, Tibães; Galeria Espaço de Arte, Vila Real; Fundação Júlio Resende, Gondomar; Casa Armanda Passos, Porto; Antigos Paços do Concelho, Câmara Municipal de Viana do Castelo; Museu Municipal de Coimbra, Edifício Chiado; Casa Andresen / Jardim Botânico do Porto e Reitoria da Universidade do Porto.

Está representada em numerosos museus e coleções: Centro de Arte Moderna – Fundação C. Gulbenkian; Fundação Serralves; Fundação Museu do Oriente, Fundação Champalimaud, Museu Amadeo de Cardoso, Amarante; Museu Nogueira da Silva, Braga; Museu de Chaves; Museu de Arte Contemporânea, Tomar; Secretaria de Estado da Cultura.

Em 2011, no ano do seu Centenário, a Universidade do Porto homenageou a pintora com uma grande exposição retrospetiva da sua obra.

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