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Imagem da Capa: Fernando de Azevedo/ “Uma flor para António Pedro”, 1981
Na capa deste catálogo se presta homenagem de Centenário a António Pedro (1909-1966) numa obra que Fernando de Azevedo lhe dedicou.
Com esta exposição comemoram-se dez anos de atividade ininterrupta de um espaço cultural com características, se não únicas, pelo menos raras no país. Desde o ano 2000 que Tomar tem permanentemente aberta ao público uma sala de exposições com obras dos mais relevantes artistas nacionais, contando ainda, sempre que possível, com a presença dos próprios autores nas sessões inaugurais, bem como com magníficas abordagens sobre as mesmas, efetuadas por alguns dos principais especialistas na matéria.
Que um espaço como este atinja a primeira década de existência cumprindo rigorosamente o plano de atuação que lhe foi traçado, e que cada nova exposição seja sempre um acontecimento de relevo, eis uma prova de que Tomar é, de facto, uma cidade de cultura.
Fernando Corvêlo de Sousa
Presidente da Câmara Municipal de Tomar
Foi esta Galeria dos Paços do Concelho inaugurada em Fevereiro de 2000 com uma exposição de “16 Pintores Contemporâneos” que iriam integrar o Núcleo de Arte Contemporânea do Museu Municipal de Tomar que abriria as suas portas em 2004. Dez anos depois, a 36ª exposição apresenta “Artistas Contemporâneos”, já anteriormente representados uns, e 9 inéditos no conjunto tomarense, vindos, uns e outros, de doações ocorrentes, em regular acrescentamento do acervo do Museu que nesta exposição selecionada por razões de espaço não se esgota.
Na exposição contam também, e de modo muito importante, duas peças novas, de Joaquim Rodrigo e de Noronha da Costa, artistas já conhecidos na coleção, onde têm posição de natural relevo.
O quadro de Noronha da Costa, na sua ironia circunstancial, em plena crise política após o 25 de Abril, aconselha a “Votar Nuno Gonçalves”, não sem malicioso jogo de nomes, com um então popular – e excelente aviso era esse, à navegação bem perturbada de uma cultura cívica nacional que no políptico da Janelas Verdes colhia a mais segura das suas referências históricas... Este quadro nunca foi exposto até hoje.
A composição de Joaquim Rodrigo, pelo contrário, é bem conhecida, exposta que foi na 1ª Exposição de Arte Moderna da S.N.B.A. em 1959, e reproduzida entre a escolha de 100 Quadros Portugueses, no século XX (de J.-A. França, 2000). Faz parte de um conjunto de quatro pinturas, numeradas de 1 a 6 sob o título geral de “Vermelho x Azul”, com as peças 4 e 5 destruídas e outras duas na Fundação Gulbenkian (via coleção Jorge de Brito) e a nº 3 na Caixa Geral de Depósitos – sendo, porém, a mais interessante esteticamente, no extremo limite da sua procura, o presente nº 6 – que, depois da exposição da coleção J.-A. França em 1997, no Museu do Chiado, ali ficou longamente em depósito, nas reservas. É uma obra de grande importância e significado no discurso abstracionista da pintura portuguesa, e no conjunto da produção de Joaquim Rodrigo, na sua primeira fase, em anos finais de 50.
Entre os artistas inéditos, em relação ao acervo do Museu, contam-se Graça Morais e Helena Almeida – com um desenho recente, na grande autenticidade de uma arte original, difícil que seja de agrado, radicada na terra transmontana dos seus princípios; e um desenho de 1970, em que o traço, ludicamente traçado, se continua no espaço como (se bem refletirmos) sempre poderia ou deveria acontecer, para que o desenho como tal plenamente se assuma. Lembra-se o signatário de o ter dito, apresentando a exposição de então de Helena Almeida, para que agora o possa repetir, com gosto.
E dois novos escultores passaram a integrar o acervo do Museu: José Aurélio (de quem se viu recentemente na Galeria uma vasta exposição da obra, em suas várias facetas, dos monumentos às medalhas que o situam entre os melhores artistas da sua geração), e José Coêlho, que em breve terá também uma exposição de peças inéditas na Galeria.
As coleções de gravuras incluem novos nomes que bom lugar têm na história da pintura portuguesa – como Carlos Botelho, o pintor das imagens serenas e poéticas de Lisboa, Tomás de Melo – Tom, da mesma geração de anos 30 e 40, com uma imagística popular de época, Maluda, representada aqui por uma das suas belas cenografias do Tejo, de colorido luminoso – e Nadir Afonso, no seu profundo discurso em que há muito vem estruturando dinamicamente uma sempre mesma cidade imaginária.
Uma secção fotográfica tem quatro expositores: Fernando Lemos, Eduardo Nery e Carlos Calvet, já representados em pintura no acervo, em situações diversas de intervenção “subjetiva” como logo se disse da obra do primeiro, realizada toda cerca de 1950, e com grande relevo internacional hoje em dia. As fantasmagorias de Nery, em variantes sobre esculturas negras, o jogo subtil de imagens de uma realidade insólita de Calvet tiveram exposições na Galeria – tal como Pedro Soares, no seu realismo transfigurado (e o acervo possui outras obras dos quatros fotógrafos).
Mais um guache de Emília Nadal na sua original perseguição de espaços oníricos, três desenhos de Júlio, Manuel Casimiro, Moniz Pereira, e uma aguarela de Carlos de Moura, com um poema manuscrito de António Ramos Rosa, completam o conjunto exposto – cuja maior parte é constituída por gravuras de várias técnicas, de serigrafia sobretudo, em que se repetem nomes de artistas do acervo – como Fernando de Azevedo, Manuel Amado, René Bertholo, Costa Pinheiro, Manuel Casimiro, José de Guimarães, Noronha da Costa ou António Sena, com novas peças que o enriquecem.
José-Augusto França
CATÁLOGO
1. Emília Nadal - Sem título, a. n.d., Guache sobre papel, 51,9 x 69,4 cm
2. Joaquim Rodrigo - Vermelho x azul nº 6, a. d.,1958, óleo sobre tela, 64,5 x 92,5 cm
3. Noronha da Costa - Vote Nuno Gonçalves, a. d., 1973, acrílico s/ tela, 65,5 x 93 cm
4. Costa Pinheiro - Sem título (série Fernando Pessoa), 1985, papel recortado, 39,5 x 23 cm
5. Emília Nadal - L’Intellect, a. n.d., 1975, colagem sobre folha de Flandres, 13,9 x 13,3 cm
6. José Aurélio - Arco de Cister, a. d., 1997, aço, 56 x 30 x 30 cm
7. José Coêlho - Tomar/Roma – Amore Mio, a. d., 2009, metal, ferro e aço inox, 110 x 37 x 37
8. Carlos Moura - Sem título, a. d.,1988, aguarela, 39 x 29 cm
9. Graça Morais - Maria, a.d., 2008, Grafite sobre papel, 30 x 40 cm
10. Helena Almeida - Desenho, a. d., 1970, tinta da china e crina sobre papel plastificado, 32 x 25 cm
11. Júlio - Poeta no Circo, a. d., 1961, tinta-da-china sobre papel, 41 x 30 cm
12. Manuel Casimiro - Sem título, a. d., 1968, caneta de feltro e aguada sobre papel, 64,8 x 49,8 cm
13. Moniz Pereira - Desenho, a. d.,1979, tinta-da-china sobre papel, 27,5 x 28,5 cm
14. Carlos Calvet - Desembarque de Isabel II (cena de multidão), 1957, fotografia, 50 x 33,3 cm
15. Carlos Calvet - Cinema Rossio, 1956, fotografia, 50 x 33,3 cm
16. Eduardo Nery - Metamorfose nº 16, 2003, fotografia, 53 x 35 cm
17. Eduardo Nery - Transfiguração IV, 2003, fotografia, 95,5 x 70,5 cm
18. Fernando Lemos - José-Augusto França / Repouso da História, 1949/52, fotografia, 47 x 47 cm
19. Fernando Lemos - Fernando de Azevedo / Ver para crer, 1949/52, fotografia, 47 x 47 cm
20. Fernando Lemos - Jorge de Sena / Meditação Amparada, 1949/52, fotografia, 47 x 47 cm
21. Pedro Soares - Rua da Escola Politécnica, 2000, fotografia, 75 x 50 cm
22. António Sena - Sem título, a. d., 1972, serigrafia 30/40, 51,8 x 68,2 cm
23. Botelho - Sem título, a. d., 1979, serigrafia X/XXV, 62,5 x 74,1 cm
24. Costa Pinheiro - Universonauta, a. d., 1969, serigrafia 108/120, 41,4 x 60 cm
25. Emília Nadal - Embalagens Ideal, a. d., 1977, serigrafia 48/60, 56,9 x 75,9 cm
26. Fernando de Azevedo - Uma flor para António Pedro, a. d., 1981, serigrafia 11/120, 70,2 x 49,9 cm
27. Fernando Lemos - Sem título, a. d., 1960, linóleo 5/20, 65,8 x 31,6 cm
28. Graça Morais - Sem título, a. d., 1986, gravura 2/200, 51,7 x 80,4 cm
29. José de Guimarães - Painéis, a. d., 1976, serigrafia P.A., 76,1 x 56,6 cm
30. Maluda - Tejo VII, a. n.d. - serigrafia P.A. 1/25, 70,2 x 79,2 cm
31. Manuel Amado - O quarto de Fernando Pessoa I, a. d., 1998, serigrafia 187/200, 69,6 x 49,2 cm
32. Manuel Casimiro - Cidade II, a. n.d., serigrafia P.A. XXII/XXV, 50,1 x 70,2 cm
33. Moniz Pereira - Quetzal, a. d., 1981, serigrafia P.A. XXIX/XXX, 51,1 x 53,1 cm
34. Nadir Afonso - Sem título, a. n.d., serigrafia 71/200, 56 x 75,9 cm
35. Noronha da Costa - Sem título, a. n.d., serigrafia P.A. XVIII/XX, 50,3 x 70,4 cm
36. René Bertholo - Coucher le Soleil, a. d., 1967, serigrafia, 60 x 45 cm
37. Thomas de Mello (Tom) - Sem título, a. d., 1976, gravura 158/300, 49,7 x 69,7 cm
2000-2010
Dez anos de atividade, desde Fevereiro de 2000, são comemorados com esta 36ª exposição trimestral da Galeria dos Paços do Concelho, realizadas com grande regularidade, em extensão do “Núcleo de Arte Contemporânea” do Museu Municipal João de Castilho, inaugurado com a Doação José-Augusto França, em 9 de Maio de 2004 pelo Presidente da República Dr. Jorge Sampaio. O plano do Museu é devido ao Professor Arq. Jorge Mascarenhas, adaptando uma velha casa da Rua Gil de Avó, e contando com obras de escultura e azulejo criadas especialmente para o exterior do edifício por José de Guimarães e Eduardo Nery. Por seu lado, a Galeria adaptou o piso térreo dos próprios Paços do Concelho manuelinos, com projeto do Arq. José Faria.
Se o pintor Fernando de Azevedo deu colaboração entusiasta aos princípios da Galeria, a José Faria ficou e continua devida a sua realização, tal como a organização do Museu, e as suas instalações anexas inauguradas, defronte, em 2008. O Prof. Rui Mário Gonçalves, que teve papel importante na montagem do Museu, continua a tê-lo na realização das exposições da Galeria, a par das Profª. Cristina Azevedo Tavares e Raquel Henriques da Silva, que, na altura presidente do Instituto Português de Museus, prestou ao Museu excelente apoio. Os termos de Protocolo assinado entre o doador e a Câmara Municipal de Tomar, com assistência do Instituto Português de Museus, reserva posição patrimonial ao Museu Nacional de Arte Contemporânea, com cuja colaboração sempre se tem contado, tal como se conta com o apoio da Sociedade Nacional de Belas Artes. Os três colegas professores, a historiadora de Arte Marie-Thérèse Mandroux-França integram, com José-Augusto França, a Comissão Orientadora do Museu e das suas atividades. Estas têm sido desenvolvidas, além das exposições regulares, com conferências, colóquios, audições e exposições culturais, expandindo-se em outros locais públicos da cidade, graças, sempre, à ação do Arq. José Faria, e da conservadora do museu desde o início nomeada, Ângela Ferraz, com outras conservadoras que têm feito parte do quadro, como foi ultimamente o caso da Inês Santos.
A exposição do 10º Aniversário da Galeria, ao lembrar todos os agentes desta empresa cultural de evidente importância nacional, deve também, e muito especialmente, sublinhar os apoios constantemente recebidos de uma edilidade atenta aos valores culturais em questão – logo através do interesse pessoalmente manifestado pelos dois Presidentes sucessivos, o Eng. António Paiva e o Dr. Fernando Corvêlo de Sousa.
Por definição de programa, as exposições da Galeria dos Paços do Concelho apresentam exclusivamente artistas representados no “Núcleo de Arte Contemporânea”, com a origem privada da sua coleção, de responsabilidade crítica – o que tem permitido expor artistas do maior significado histórico, como Almada Negreiros ou Bernardo Marques, António Pedro ou António Dacosta, Júlio ou Luís Dourdil, José Júlio ou Vasco Costa, Fernando Azevedo ou Vespeira – para pôr aqui em lembrança somente os nomes dos que já nos deixaram. Mas o enriquecimento sucessivo da doação que, anualmente, nos aniversários do Museu, tem sido registado, ou também devido a outras ofertas dos artistas, constitui o tema da presente 36ª exposição – em balanço de um decénio de atividade.
A Comissão Orientadora
Cristina de Azevedo Tavares, José-Augusto França, Marie-Thérèse Mandroux-França, Raquel Henriques da Silva e Rui Mário Gonçalves
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